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Indústria cultural

A indústria cultural transforma bens culturais em mercadoria para serem amplamente consumidos.

Letreiro de Hollywood, em Los Angeles, um símbolo da indústria cultural.
Os estúdios de cinema de Hollywood representam o que há de mais tradicional na indústria cultural mundial.[1]
Crédito da Imagem: shutterstock
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Indústria cultural é um termo difundido pelos teóricos da Escola de Frankfurt para designar a indústria do entretenimento popular, que produz cultura para as massas de trabalhadores das grandes cidades. Essa forma de cultura é amplamente veiculada por TV, cinema, rádio, revistas, propagandas, e vídeos e imagens que circulam pelas telas do mundo.

Os teóricos associados à Escola de Frankfurt advertiram para os riscos da massificação da arte. O principal desses riscos seria que a denominada cultura de massa deixa de ter origem popular para vincular-se à produção empresarial. As origens da indústria cultural são fenômenos como: a sociedade de consumo, a economia de mercado e a existência de meios de comunicação capazes de colocar uma mensagem ao alcance do mundo todo em poucos minutos.

Leia também: Cultura erudita — a produção artística e cultural feita pela elite e para a elite

Tópicos deste artigo

Resumo sobre a indústria cultural

  • A indústria cultural é representada pelas instituições e empresas que produzem cultura para ser consumida.
  • O desenvolvimento dos meios de comunicação de massa e a vigência da sociedade de consumo explicam a origem da indústria cultural.
  • Seus produtos são reconhecidos como “cultura pop” e apresentam pouca sofisticação.
  • A indústria cultural no Brasil é muito recente e foi consolidada durante o período da Ditadura Civil-Militar (1964-1985)
  • A indústria cultural estimula a criação de necessidades e desejos que mobilizam as pessoas ao mesmo tempo que as deixam alienadas.

Videoaula sobre a indústria cultural

O que é indústria cultural?

A indústria cultural é o mecanismo comercial que fomenta o consumo massificado de bens artísticos e culturais em geral. Esse mecanismo é administrado por grupos de empresários, que se dividem na organização das cadeias produtivas do entretenimento e da diversão, da arte e da informação em geral.

Na prática, a indústria cultural é representada pelos trabalhadores e empresários que oraganizam a publicação, a distribuição e a venda de livros, revistas, jornais, filmes, músicas, espetáculos de dança e de teatro. A indústria cultural também é a comunicação radiofônica ou televisiva, seja por assinatura, seja pelos sistemas pay per view ou de streaming.

O conceito de indústria cultural foi desenvolvido pelos filósofos e teóricos da Escola de Frankfurt, especialmente por Theodor Adorno e Max Horkheimer, os autores da Dialética do esclarecimento, livro publicado em 1947 pela primeira vez, em alemão. Talvez por essa razão, a expressão “indústria cultural” seja mais comum na Europa do que por aqui. 

Nos Estados Unidos, por exemplo, prevalece o termo “indústria do entretenimento”, que, além do cinema, do rádio, da televisão e da música, inclui todos os tipos de diversões ao vivo: atividades artísticas performáticas de teatro e dança, competições esportivas, espetáculos variados, cassinos e parques temáticos, como a Disneylândia e os Universal Studios.

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Exemplos de indústria cultural

O maior exemplo da indústria cultural mundial: Hollywood. Os conglomerados de empresários que controlam os principais estúdios de cinema do mundo, desde os anos 1930, concentram as suas operações na cidade de Los Angeles, localizada nos Estados Unidos. Eles produziram filmes como Avatar, Vingadores, Titanic, Star Wars, Homem-Aranha e Rei Leão.

Outro exemplo é Bollywood, a indústria cinematográfica indiana, atualmente entre as maiores do mundo. Ela produz filmes em hindi e em outras línguas indianas que são populares em toda a Ásia e no mundo. Do mesmo continente, veio a música pop coreana, ou K-pop, que se tornou um fenômeno global e constitui outro exemplo de produto da indústria cultural.

Ainda nesse sentido, tem-se as grandes gravadoras de música, ou seja, os grupos de empresários que representam artistas de todo o mundo e distribuem música em escala global, a exemplo de Beyoncé, Coldplay e Anitta. Além dos programas de reality show, de auditório, de notícias e das séries de TV que são transmitidos internacionalmente.

Leia também: A relação entre o rock e a indústria cultural

Origem da indústria cultural

A origem simbólica da indústria cultural foi a invenção dos tipos móveis de imprensa, no século XV, por Gutemberg. O seu desenvolvimento continuou com o avanço da sociedade industrializada, de tipo capitalista liberal, que teve início com a Revolução Industrial do século XVIII, e depois foi transformada por revoluções nos campos da eletricidade (século XIX), da eletrônica e da cibernética (século XX).

Tudo isso tornou possível a existência das mídias capazes de colocar uma mensagem ao alcance de um grande número de indivíduos. Atualmente, na chamada sociedade da informação, a indústria cultural também está alicerçada na divulgação imediata do que se passa no mundo. É tudo acontecendo “ao vivo”, com imagens e análises feitas no calor do momento por especialistas convidados das mais diversas áreas. 

O último fator para explicar a origem da indústria cultural são as relações sociais numa sociedade de consumo e numa economia de mercado. A sociedade de consumo incentiva as pessoas a adquirirem bens e serviços como forma de autoidentificação e busca por felicidade. A indústria cultural explora isso criando produtos culturais que são comercializados para atender aos desejos e necessidades das pessoas, tornando o consumo cultural uma parte fundamental do consumismo em geral.

Objetivos da indústria cultural

O principal objetivo da indústria cultural, como qualquer outra indústria, é o lucro financeiro. Ela consegue isso atraindo a atenção e o desejo das pessoas para os bens artísticos que são disponibilizados como mercadorias para serem consumidos durante o tempo livre das pessoas.

Outro objetivo declarado da indústria cultural é proporcionar entretenimento e diversão para os momentos de lazer. Ela produz filmes, músicas, programas de televisão, videogames, livros e outros produtos para entreter as pessoas durante o tempo em que estão autorizadas a não pensar em trabalho.   

A indústria cultural também atua com a finalidade de reforçar as relações de poder estabelecidas, zelando para que a ordem dada mantenha-se constante e para que o sistema capitalista que a alimenta não seja desestabilizado. Por depender do financiamento de bancos e empresas, que são os anunciantes e os patrocinadores, a indústria cultural reflete e difunde a ideologia capitalista.   

Portanto, nenhum esforço intelectual é exigido do ouvinte ou telespectador enquanto ele não está produzindo a favor do sistema. Ao reforçar a passividade diante da realidade, a ausência de crítica e o comportamento servil, a indústria cultural cumpre os objetivos que o sistema espera dela.

Características da indústria cultural

A caracaterística fundamental da indústria cultural é o tratamento dado à sua matéria-prima: a cultura em geral. A arte deixa de ser vista como instrumento da livre expressão e do conhecimento para ser convertida em produto permutável por dinheiro e consumível como qualquer outro.

Outra característica é a concorrência pela atenção do público. Para que se obtenha a satisfação do gosto popular, os produtos da indústria cultural instigam os sentimentos mais vulgares dos seres humanos, por exemplo, sobre as relações sexuais e amorosas. O recurso de atiçar a libido do espectador com a objetificação sexual do corpo humano é muito utilizado por essa indústria. 

O grupo masculino de Kpop ATEEZ fazendo um show em Los Angeles, a cidade que concentra os estúdios de Hollywood.[2]
O grupo masculino de Kpop ATEEZ fazendo um show em Los Angeles, a cidade que concentra os estúdios de Hollywood.[2]

Por esse motivo, Adorno e Horkheimer caracterizam a indústria cultural como uma cultura que degrada o humano. Ela aliena as pessoas porque estas se tornam distantes de suas próprias necessidades e desejos, influenciadas por forças externas. Isso pode resultar em uma sensação de despersonalização e perda de autonomia.

Portanto, a indústria cultural seria caracterizada por essa busca de homogeneização dos comportamentos, pela massificação das pessoas. A teoria crítica da Escola de Frankfurt serve para que possamos distinguir as produções ideológicas e massificantes daquelas que buscam fazer arte com autonomia e originalidade.

Leia também: Zygmunt Bauman — filósofo e sociólogo que estudou a pós-Modernidade

Indústria cultural e Escola de Frankfurt

Indústria cultural é um conceito discutido pelos mais conhecidos entre os teóricos ligados à Escola de Frankfurt: Theodor Adorno, Erich Fromm, Jürgen Habermas, Max Horkheimer, Herbert Marcuse e Felix Weil (o fundador da Escola). Formada em 1922, na Universidade de Frankfurt, na Alemanha, o grupo transferiu-se para os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial e voltou à Alemanha em 1949, onde continuou a existir até 1969.

Da perspectiva da Escola, por meio da indústria cultural e da diversão seriam obtidas a massificação das pessoas e a homogeneização dos comportamentos. Ela transforma a arte num produto a ser consumido, seguindo apenas os interesses de quem produz essas mercadorias e não os interesses do público.

Indústria cultural e cultura de massa

A principal função da indústria cultural é produzir e vender os produtos da dita cultura de massa. No entanto, esses dois termos foram muito discutidos pelos teóricos da Escola de Frankfurt. Foi ideia deles usar “indústria cultural” no lugar de “cultura de massa”.

O motivo é que “cultura de massa” traz uma compreensão ambígua de “cultura feita pelas massas”, como se fosse um fenômeno que nasce espontaneamente das camadas mais populares, como se fosse uma arte genuinamente popular, que existe independentemente dos juízos estéticos validados pelas (autodenominadas) elites culturais.

A fim de distinguir o caráter passivo das massas no processo de criação artística, Adorno e Horkheimer criaram o conceito de índústria cultural. Com isso, eles chamaram atenção para a lógica comercial presente na transformação dos bens artísticos em mercadoria. É a “cultura feita para as massas” e não a “cultura de massas”.  Para entender melhor, clique aqui.

Indústria cultural no Brasil

A indústria cultural se consolidou pela primeira vez, no Brasil, durante a Ditadura Civil-Militar (1964-1985). Foi nesse período que a televisão se transformou em um veículo de massa. Houve também o desenvolvimento do cinema nacional e da indústria fonográfica, editorial e publicitária em todo país.

O veículo que melhor ilustrou a expansão da indústria cultural no Brasil foi a televisão. Com os investimentos tecnológicos feitos pelo Estado, o mesmo sinal televisivo passou a integrar um sistema nacional de telecomunicação.

Em 1959, havia apenas 434 mil aparelhos de televisão no Brasil, mas esse número cresceu vertiginosamente a partir de 1965, atingindo, em 1980, 19.602 milhões de unidades funcionando. Difundiu-se assim, num período marcado por governos autoritários, o hábito de ver televisão.    

Consequências da indústria cultural

A indústria cultural, pelos meios de comunicação de massa, consegue interferir e ditar tendências de moda, costumes alimentares e até a gestualidade do ser humano. Os efeitos dessa influência, no entanto, são a homogeneização e a padronização desses comportamentos.

Além disso, a indústria cultural, na tentativa de atingir um público amplo e maximizar o lucro, cria produtos culturais simplificados e uniformes, muitas vezes carecendo de singularidade e diversidade e atuando para rebaixar os padrões de gosto. A obra de arte, que deveria provocar um efeito de conscientização e de humanização, é consumida em série para ser descartada e consumida novamente.

Outra consequência é a criação um tanto artificial de necessidades e desejos que mobilizam as pessoas ao mesmo tempo que as alienam. A publicidade é fundamental para isso. Dando visibilidade aos produtos, ela faz a ponte que une os dois extremos do mundo mercantilizado: de um lado a produção, de outro, a recepção e o consumo.  

Créditos das imagens

[1] BCFC / Shutterstock

[2] Sam the Leigh / Shutterstock

Fontes

ADORNO, T. W. Indústria cultural e sociedade. In: COHN, G. (org.). Theodor W. Adorno. São Paulo: Ática, 1995.

BARTHES, R. Mitologias. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1972.

BENJAMIN, W. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 165-196.

BITTENCOURT, Renato Nunes. A Indústria Cultural e o estatuto da obra de arte na era da reprodução técnica. In: Filosofia: um panorama histórico-temático. Rio de Janeiro: Mauad X, 2013.

HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 1997.

MARCUSE, H. A ideologia da sociedade industrial. Rio de Janeiro: Zahar, 1964.

MERQUIOR, J. G. O fantasma romântico e outros ensaios. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981. 

Escritor do artigo
Escrito por: Rafael Pereira da Silva Mendes Licenciado e bacharel em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atuo como professor de Sociologia, Filosofia e História e redator de textos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

MENDES, Rafael Pereira da Silva. "Indústria cultural"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/industria-cultural.htm. Acesso em 26 de abril de 2024.

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