Protestantismo

O protestantismo é uma vertente do cristianismo fundamentada em princípios como a autoridade da Bíblia, a salvação pela fé e o sacerdócio universal dos crentes.

Reformistas, como Martinho Lutero, iniciaram um movimento que deu origem a uma nova religião: o protestantismo.

O protestantismo é uma vertente cristã, que rompeu com a Igreja Católica em busca de reformas doutrinárias e práticas, surgida no contexto da Reforma Protestante, no século XVI. Influenciado por líderes como Martinho Lutero, João Calvino e Henrique VIII, o protestantismo se caracteriza pela ênfase na autoridade da Bíblia, na salvação pela fé, no sacerdócio universal dos crentes e na diversidade de tradições denominacionais.

As principais religiões protestantes incluem o luteranismo, calvinismo e anglicanismo, cada uma com suas doutrinas distintas. No Brasil, o protestantismo experimentou um crescimento expressivo, representando uma parcela significativa da população por meio de denominações como Assembleia de Deus, Igreja Batista e Universal do Reino de Deus. Globalmente, o protestantismo tornou-se uma presença influente em diversas partes do mundo, moldando a história, cultura e sociedade.

As diferenças entre protestantismo e catolicismo incluem: interpretações bíblicas; a ênfase na salvação pela fé (protestantismo) versus a combinação de fé e obras (catolicismo); a autoridade papal (catolicismo); e a diversidade denominacional, mais pronunciada no protestantismo.

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Resumo sobre protestantismo

  • O protestantismo é uma vertente cristã que teve origem com a Reforma Protestante, no século XVI, marcada por um rompimento com a Igreja Católica e a busca por reformas doutrinárias e práticas.
  • Suas características fundamentais são a ênfase na autoridade da Bíblia, a salvação pela fé, o sacerdócio universal dos crentes, e a diversidade de tradições denominacionais.
  • As principais religiões protestantes são:
    • luteranismo, centrado nas ideias de Martinho Lutero;
    • calvinismo, influenciado por João Calvino; e
    • anglicanismo, originado na Inglaterra, com Henrique VIII.
  • No Brasil, o protestantismo experimentou crescimento significativo, influenciando a cultura religiosa e representando uma parcela expressiva da população.
  • Assembleia de Deus, Igreja Batista e Igreja Universal do Reino de Deus são as principais denominações protestantes no Brasil.
  • O protestantismo tornou-se uma presença global, com milhões de adeptos em diferentes partes do mundo, diversificando-se em várias tradições denominacionais e influenciando a história, cultura e sociedade em muitos países.
  • As diferenças entre protestantismo e catolicismo incluem a interpretação da Bíblia; a ênfase na salvação pela fé (protestantismo) versus a combinação de fé e obras (catolicismo); a autoridade papal (catolicismo); e a diversidade denominacional, mais pronunciada no protestantismo.

O que é o protestantismo?

O protestantismo é uma vertente do cristianismo que surgiu no século XVI como resultado das Reformas Religiosas. Essas reformas foram desencadeadas por um conjunto de mudanças históricas, políticas e sociais, notadamente durante a formação dos Estados nacionais e o renascimento cultural.

O movimento protestante questionou e, em muitos casos, rompeu com as tradições e doutrinas estabelecidas pela Igreja Católica, buscando uma abordagem que se considera mais direta e individual da fé cristã.

Origem do protestantismo

As Reformas Religiosas, do século XVI, incluindo o surgimento do protestantismo, foram moldadas pelo contexto histórico da formação dos Estados nacionais e pelo renascimento cultural. Diversos eventos e indivíduos influenciaram esse movimento.

Ao longo da história cristã, houve precedentes de divisões e reformas, como o Concílio de Niceia (325) e o Cisma do Oriente (1054). Antes das Reformas, figuras como os doutores da Igreja, São Gregório Magno, Santo Agostinho e São Jerônimo, contribuíram para o desenvolvimento teológico e filosófico do catolicismo.

No início da Idade Moderna, a descentralização dos territórios medievais deu lugar à formação de Estados nacionais. A estrutura da Igreja Católica medieval, com sua vasta propriedade de terras, uso exclusivo do latim como língua escrita e falada e a inquestionável autoridade papal política e religiosa, tornou-se um obstáculo para os monarcas, que buscavam unificar seus territórios, exercer comando soberano e organizar a economia.

Esse contexto levou autoridades políticas a buscarem a criação de novas religiões durante as Reformas, visando afirmar identidades nacionais e reforçar a autoridade real.

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Características do protestantismo

O protestantismo compartilha várias características comuns, embora existam diferenças significativas entre as denominações. Algumas características fundamentais incluem:

  • ênfase na autoridade da Bíblia como a única fonte de fé e prática (Sola Scriptura);
  • crença na salvação pela fé somente (Sola Fide); e
  • graça como o único meio de salvação (Sola Gratia).

Além disso, muitas tradições protestantes enfatizam a sacerdócio de todos os crentes, permitindo uma relação direta e pessoal com Deus.

Principais religiões protestantes e suas características

→ Luteranismo

Teve origem na Reforma Alemã, liderada por Martinho Lutero no Sacro Império Romano Germânico. Lutero questionou as indulgências da Igreja Católica, especialmente o abuso associado às práticas de Johann Tetzel. Suas 95 Teses, afixadas na porta da Igreja do Castelo em Wüttenberg, criticaram as indulgências, mas não negaram a autoridade papal ou buscaram criar uma Igreja.

Martinho Lutero, reformador protestante do século XVI.

O movimento luterano enfatiza a justificação pela fé, a autoridade da Bíblia e o sacerdócio universal dos crentes. O luteranismo tem como principais características:

  • Sola Scriptura (somente a Escritura): o princípio enfatiza que a Bíblia é a única fonte de autoridade na fé cristã. Os protestantes acreditam que a Escritura contém as diretrizes necessárias para a vida cristã e a compreensão da vontade divina, rejeitando a tradição como uma fonte independente de revelação.
  • Sola Fide (somente a fé): a doutrina destaca que a salvação é alcançada apenas pela fé em Jesus Cristo. Isso contrasta com a visão católica, que inclui obras e sacramentos como parte do processo de salvação. Para os protestantes, a fé é o meio exclusivo pelo qual os crentes são justificados perante Deus.
  • Sola Gratia (somente a graça): essa ênfase ressalta que a salvação é um dom gratuito de Deus, concedido pela Sua graça, independentemente dos méritos humanos. Essa doutrina reflete a convicção de que os seres humanos são incapazes de conquistar a salvação por meio de suas próprias obras.
  • Sacerdócio de todos os crentes: o conceito sustenta que todos os fiéis têm acesso direto a Deus, eliminando a necessidade de intermediários, como sacerdotes. Cada indivíduo é visto como capaz de se comunicar diretamente com Deus por meio da fé e oração.

→ Calvinismo

Liderado por João Calvino, teve um impacto significativo na França, Suíça, Escócia e Holanda. Calvino, um pensador da segunda geração de reformadores, desenvolveu a doutrina da predestinação, ensinando que Deus determina a salvação ou condenação antes do nascimento de uma pessoa.

João Calvino introduziu no protestantismo a doutrina da predestinação.

A teologia calvinista influenciou a ética protestante e contribuiu para o desenvolvimento do capitalismo, como analisado por Max Weber em A ética protestante e o espírito do capitalismo. O calvinismo tem como principais características:

  • Predestinação: João Calvino ensinou que Deus, antes da criação do mundo, escolhera alguns indivíduos para a salvação e outros para a condenação eterna. Essa predestinação não é baseada em méritos humanos, mas na vontade soberana de Deus.
  • Teologia reformada: enfatiza a supremacia de Deus em todas as áreas da vida. Essa visão abrange a soberania de Deus na predestinação, na salvação e na providência, influenciando a compreensão calvinista de sociedade, cultura e governo.
  • Teocracia e governo por presbíteros: em algumas áreas onde o calvinismo se estabeleceu, houve uma tendência em direção a formas de governo teocráticas, em que a Igreja e o Estado eram fortemente interligados. O sistema de governo eclesiástico, muitas vezes, envolvia presbíteros eleitos em níveis local, regional e nacional, dando aos membros da Igreja uma voz nas decisões.
  • Ênfase na educação: os calvinistas historicamente valorizam a educação, acreditando que o conhecimento da Palavra de Deus é essencial para a vida cristã. Isso levou à fundação de muitas instituições educacionais calvinistas ao redor do mundo.

→ Anglicanismo

Teve origem na Inglaterra durante o reinado de Henrique VIII. A separação da Igreja Católica foi motivada por questões políticas, especificamente a anulação do casamento de Henrique VIII com Catarina de Aragão. O Ato de Supremacia, em 1534, estabeleceu o monarca inglês como chefe supremo da Igreja da Inglaterra.

O anglicanismo manteve algumas práticas católicas, resultando em uma tradição única, que mistura elementos católicos e reformados. Suas principais características são:

  • Via média teológica: o anglicanismo é, muitas vezes, caracterizado como uma via média teológica, buscando equilibrar elementos do catolicismo e do protestantismo. Mantém alguns rituais e estruturas hierárquicas da tradição católica, enquanto adota princípios protestantes em termos de autoridade da Escritura e salvação pela fé.
  • Supremacia real na Igreja: uma característica única do anglicanismo é a supremacia real, que estabelece o monarca britânico como o chefe supremo da Igreja da Inglaterra. Isso surgiu historicamente da separação da Igreja Católica durante o reinado de Henrique VIII.
  • Liturgia e Livro de Oração Comum: o anglicanismo é conhecido por sua liturgia formal e pelo uso do Livro de Oração Comum. Este contém rituais, orações e liturgias usadas nas celebrações da Igreja, buscando uma linguagem acessível para os fiéis.
Livro Comum de Orações da Igreja Anglicana do Canadá. O anglicanismo preserva uma liturgia formal.[1]
  • Ampla variedade teológica: dentro do anglicanismo, há uma ampla variedade de perspectivas teológicas. Desde os anglo-católicos, que mantêm práticas mais próximas do catolicismo, até os evangélicos anglicanos, que adotam uma abordagem mais protestante, a diversidade é uma característica notável.

Outras denominações protestantes

→ Presbiterianos

Têm suas raízes na Reforma Protestante do século XVI, especialmente influenciados pelo pensamento de João Calvino. A denominação é caracterizada pelo sistema presbiteriano de governo da Igreja, no qual os presbíteros eleitos lideram em diferentes níveis, desde a congregação local até a estrutura regional e nacional.

Sua ênfase na soberania de Deus e na autoridade da Escritura moldou a teologia presbiteriana, destacando-se por uma abordagem reformada e uma ênfase na predestinação.

→ Puritanos

Eram um grupo dentro do anglicanismo que buscava purificar a Igreja da Inglaterra de elementos considerados católicos e restaurar uma forma mais simples e pura de adoração. Durante os séculos XVI e XVII, os puritanos desempenharam um papel significativo na história inglesa e, mais tarde, na colonização da América.

Suas crenças incluíam uma forte ênfase na autoridade da Escritura, um estilo de vida piedoso e a rejeição de práticas litúrgicas vistas como excessivas. Muitos puritanos, eventualmente, se tornaram parte do movimento congregacionalista e contribuíram para o desenvolvimento das tradições protestantes não conformistas.

→ Batistas

Têm origens no século XVII, quando grupos separatistas ingleses, influenciados pelos puritanos e congregacionalistas, rejeitaram o batismo infantil e adotaram o batismo de crentes. Os batistas enfatizam a liberdade religiosa, a autonomia local da Igreja e a crença na separação entre Igreja e Estado.

O batismo por imersão é uma das maiores expressões das igrejas protestantes batistas.

A sua ênfase no batismo por imersão de crentes adultos e na autonomia congregacional contribuiu para a formação de uma identidade batista única. O movimento batista se espalhou globalmente, com diversas denominações e tradições, mas a ênfase na autonomia local da Igreja e na liberdade individual persiste.

→ Adventistas do Sétimo Dia

Os Adventistas do Sétimo Dia originaram-se nos Estados Unidos, no século XIX, liderados por William Miller. Miller, um pregador batista, anunciou que o retorno de Cristo ocorreria entre 1843 e 1844, com base em seu estudo das profecias bíblicas. Esse movimento ficou conhecido como Movimento Millerita.

Quando a data prevista para o retorno de Cristo passou sem cumprimento, muitos seguidores ficaram desiludidos, mas um grupo liderado por Ellen G. White reinterpretou a mensagem e formou a base dos Adventistas do Sétimo Dia. Eles observam o sábado como dia de descanso, defendem a ideia do juízo investigativo, enfatizam a saúde holística e acreditam na iminente segunda vinda de Cristo.

→ Mórmons (Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias)

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, comumente conhecida como Igreja Mórmon, foi fundada por Joseph Smith nos Estados Unidos, em 1830. Segundo a tradição mórmon, Joseph Smith recebeu revelações divinas, incluindo o Livro de Mórmon, considerado pelos mórmons como outro testamento de Jesus Cristo. Eles acreditam em uma restauração do cristianismo primitivo por meio de Joseph Smith e afirmam que a autoridade sacerdotal foi restabelecida.

A Igreja tem uma hierarquia centralizada, incluindo apóstolos vivos e um profeta-presidente. Os mórmons têm práticas únicas, como o batismo pelos mortos e o templo como um local sagrado para cerimônias específicas. O movimento mórmon cresceu rapidamente e se tornou uma presença global, com destaque para suas crenças distintas e práticas religiosas.

→ Movimento pentecostal

Tem sua origem no início do século XX e é caracterizado por um renovado interesse nas experiências do Espírito Santo, especialmente a prática do falar em línguas. O avivamento pentecostal começou em reuniões de avivamento nos Estados Unidos, sendo a rua Azusa, em Los Angeles, um marco crucial em 1906.

Os pentecostais acreditam nos dons do Espírito Santo, incluindo cura divina, profecia e falar em línguas. O movimento se expandiu globalmente, dando origem a várias denominações pentecostais e carismáticas.

John Seymour, pregador americano que participou do início do movimento pentecostal.

→ Neopentecostais

Representam uma evolução dentro do pentecostalismo, surgindo principalmente a partir da segunda metade do século XX. Essa vertente enfatiza ainda mais a prosperidade material e o sucesso na vida terrena como sinais da bênção divina.

Os neopentecostais também incorporam elementos da teologia da prosperidade, ensinando que a fé, quando expressa corretamente, leva à prosperidade financeira e à saúde física. Essa abordagem atraiu grandes congregações e ganhou destaque em muitas partes do mundo, moldando a face contemporânea do pentecostalismo e do protestantismo em geral.

Protestantismo no Brasil

No Brasil, o protestantismo experimentou um crescimento significativo nas últimas décadas. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que várias denominações protestantes têm se expandido, incluindo os evangélicos pentecostais e neopentecostais.

As principais denominações incluem:

  • Assembleia de Deus;
  • Igreja Universal do Reino de Deus;
  • Congregação Cristã do Brasil, entre outras.

O número de fiéis tem aumentado, refletindo mudanças na paisagem religiosa brasileira.

Saiba mais: Tratado de Latrão — acordo que estabeleceu o Vaticano oficialmente como o Estado papal

Protestantismo no mundo

Globalmente, o protestantismo é uma das principais tradições do cristianismo, com milhões de adeptos em todo o mundo. As denominações protestantes são diversas em suas práticas e teologias, abrangendo desde as Igrejas históricas até os movimentos mais contemporâneos.

O protestantismo tem desempenhado um papel significativo na história e na cultura de muitas nações, influenciando não apenas a esfera religiosa como também a política e a sociedade.

Qual é a diferença entre protestantismo e catolicismo?

As diferenças fundamentais entre o protestantismo e o catolicismo incluem a abordagem à autoridade, com os protestantes enfatizando a autoridade exclusiva da Bíblia, enquanto os católicos aceitam a autoridade do Papa e da tradição.

A compreensão da salvação também difere, com os protestantes enfatizando a fé como o meio principal, enquanto os católicos incorporam ações e sacramentos. A estrutura eclesiástica varia, com os protestantes frequentemente adotando uma abordagem mais descentralizada e os católicos mantendo uma hierarquia mais centralizada.

Crédito da imagem

[1] Wikimedia Commons

Fontes

LINDBERG, Carter. História da reforma: Um dos acontecimentos mais importantes da história do cristianismo em uma narrativa clara e envolvente. Thomas Nelson Brasil, 2017

RUPENTHAL, Willibaldo. História do Cristianismo: da Antiguidade até a Reforma Protestante. Publicações Pão Diário, 2022.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

CAMPOS, Tiago Soares. "Protestantismo"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/religiao/protestantismo.htm. Acesso em 28 de abril de 2024.

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