Paralelismo

O paralelismo corresponde a uma sequência simétrica que integra uma oração. Ele tem como objetivo o aprimoramento da coesão e coerência textuais.

O paralelismo pode ser compreendido como uma direção estilística na composição do texto.

O paralelismo é a relação de simetria no texto, seja em seu aspecto morfossintático, seja semântico. Ele estabelece nexo entre textos no plano linguístico, isto é, por meio dos elementos de coesão e coerência formalizados na escrita. Não se trata necessariamente de uma regra da gramática, e sim de uma diretriz de ordem estilística.

Leia também: Textualidade — conjunto das características capazes de garantir que algo seja percebido como texto

Resumo sobre paralelismo

  • O paralelismo é a diretriz estética que promove simetria de ideias, estruturas verbais ou segmentos textuais.

  • As relações simétricas no texto podem ocorrer no âmbito da função (morfossintaxe) ou no sentido (semântica).

  • Alguns dos problemas mais comuns envolvendo o paralelismo se dão quanto à utilização de termos de uso duplo e quanto ao uso de tempos verbais.

  • O paralelismo não constitui propriamente uma regra gramatical. Assim, na literatura e nas artes, por exemplo, o seu uso/não uso visa produzir determinados efeitos de sentido no texto.

O que é paralelismo?

Segundo a Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, paralelismo é a relação de correspondência ou simetria no texto feita entre ideias, estruturas verbais ou segmentos textuais que funcionam de maneira coordenada na composição de um enunciado.

Em outras palavras, o paralelismo estabelece uma relação de simetria no texto, podendo ocorrer em sua composição morfossintática ou semântica. Vejamos os exemplos a seguir:

É impossível entender a legislação porque ora ela concede autonomia ao sujeito e em determinados momentos parece cercear as escolhas de cada um.

É impossível entender a legislação porque ora ela concede autonomia ao sujeito ora ela parece cercear as escolhas de cada um.

Nesse exemplo, a quebra na estrutura da oração ocorre quando, ao estabelecer um elo de coordenação com ideia de alternância, usam-se dois elementos distintos (“ora” e “em determinados momentos”) em vez da repetição da coordenada alternativa (“oraora…”), que promove simetria.

Meu sonho é: estudar, trabalhar e descanso.

Meu sonho é: estudar, trabalhar e descansar.

Nesse segundo exemplo, ao enumerar os sonhos em questão, temos uma perda da simetria a partir do uso de classes gramaticais distintas — verbo (estudar e trabalhar) e substantivo (descanso). O ideal seria que todas as palavras na enumeração fossem verbos, como se verifica no segundo caso.

Veja também: O que é um período composto por coordenação?

Tipos de paralelismo

De acordo com o gramático Cegalla, o paralelismo pode ser classificado nos seguintes tipos:

→ Paralelismo sintático

Paralelismo sintático é entendido como a perfeita correlação na estruturação sintática da frase em uma sequência de enumeração ou exemplificação.

  • Exemplos:

O formulário está disponível no endereço eletrônico e sede da loja.

Acima, a construção apresenta-se sem paralelismo sintático, visto que a preposição no é utilizada em um determinado momento e não em outro, provocando assimetria.

O formulário está disponível no endereço eletrônico e na sede da loja.

Ao adequar a sentença acima, percebe-se uma organização simétrica dentro dos aspectos coesivos que formulam o trecho.

→ Paralelismo morfológico

Paralelismo morfológico é entendido como o perfeito uso de classes gramaticais na frase em uma sequência de enumeração ou exemplificação.

  • Exemplos:

Proibido fumar e comida no local.

O exemplo acima apresenta uma sentença com duas classes gramaticais diferentes (verbo e substantivo, respectivamente), não havendo um paralelismo morfológico.

Proibido fumar e comer no local.

O paralelismo pode ser obtido ao transformar o substantivo em verbo (comida — comer). Há ainda uma segunda possibilidade:

Proibido fumar e entrar com comida no local.

→ Paralelismo semântico

Paralelismo semântico é a correlação entre um conjunto de ideias considerando a composição lógico-semântica na frase.

  • Exemplos:

Amo Beatles, Legião Urbana e Machado de Assis.

O enunciador da frase acima estabelece um campo de significação que envolve o universo de gostos musicais (Beatles e Legião Urbana), mas acrescenta um elemento estranho e ausente ao grupo semântico, o escritor Machado de Assis.

Amo Beatles, Legião Urbana e Pink Floyd.

Uma alternativa seria trocar o termo destoante (Machado de Assis) por outro que componha a associação de significados estabelecidos (Pink Floyd), mantendo a ligação com o universo musical. Porém, outra possibilidade seria marcar, por meio do uso de verbos, a diferença entre os elementos, o que passaria a ser um paralelismo morfológico:

Amo ouvir Beatles e Legião Urbana e ler Machado de Assis.

Vejamos a seguir outra situação de paralelismo semântico:

Eles ganharam o jogo e perderam a cabeça.

Na oração acima, há uma quebra no sentido ao estabelecer uma relação física (jogar uma partida de futebol) e psicológica (perder a concentração e brigar). Portanto, não há igualdade entre os termos da sentença.

Eles ganharam o jogo e levantaram a taça.

De forma distinta do exemplo anterior, as ideias de vencer uma partida e uma competição estão semanticamente conectadas.

→ Videoaula sobre paralelismo sintático, morfológico e semântico

Alguns casos frequentes de paralelismo

Abaixo, listamos uma série de casos comuns em que ocorre ausência de paralelismo e sua substituição por meio de uma relação de simetria nas frases.

→ Casos envolvendo termos

  • tanto… quanto

O curso foi direcionado tanto aos jovens e aos mais velhos. (sem paralelismo)

O curso foi direcionado tanto aos jovens quanto aos mais velhos. (com paralelismo)

  • quer… quer

Quer o governo queira ou não, a população vai às ruas em protesto. (sem paralelismo)

Quer o governo queira, quer ele não queira, a população vai às ruas em protesto. (com paralelismo)

  • por um lado… por outro

Por um lado, venceram a competição, mas perderam a amizade. (sem paralelismo)

Por um lado, venceram a competição, por outro, perderam a amizade. (com paralelismo)

  • não… nem

A audiência não ocorrerá na próxima semana e na outra. (sem paralelismo)

A audiência não ocorrerá na próxima semana, nem na outra. (com paralelismo)

→ Casos envolvendo tempos verbais

  • Pretérito imperfeito do subjuntivo e futuro do pretérito do indicativo

O pretérito imperfeito do subjuntivo (contasse, pensasse, ajudasse) tem o seu uso adequado quando junto do futuro do pretérito do indicativo (contaria, pensaria, ajudaria). Em algumas situações, a relação pretérito imperfeito do subjuntivo — futuro do pretérito do indicativo não é utilizada, provocando assimetria.

Se eu te contasse, você não acredita. (sem paralelismo)

Se eu te contasse, você não acreditaria. (com paralelismo)

  • Futuro do subjuntivo e futuro do presente

Seguindo a mesma lógica, o futuro do subjuntivo (estudarmos, pensarmos) estabelece um paralelo com o futuro do presente (estudarei, pensarei).

Quando nós estudarmos, passamos na prova. (sem paralelismo)

Quando nós estudarmos, passaremos na prova. (com paralelismo)

Paralelismo na literatura e nas produções artísticas

O paralelismo não constitui propriamente uma regra gramatical rígida. Na verdade, ele é uma diretriz de ordem estilística. Há, portanto, uma série de usos/não usos propositais a fim de se obter determinado efeito de sentido com o enunciado.

Assim, a literatura e as artes fazem lançam mão (ou não) do paralelismo a fim atingir certas reações de seu receptor. A música e a poesia, por exemplo, fazem associações rítmicas e repetições entre palavras produzindo efeitos de sequencialidade e dando tons de musicalidade ao texto.

O vento varria as folhas,

O vento varria os frutos,

O vento varria as flores...

E a minha vida ficava

Cada vez mais cheia

De frutos, de flores, de folhas.

(“Canção do vento e da minha vida”, Manuel Bandeira)

No poema de Manuel Bandeira há uma série de repetições:

  • de termos (vento, varria, frutos, folhas e flores);

  • de estrutura (O vento varria…);

  • de conteúdos fônicos (-ava, -eia, -as, -os);

  • de tempos verbais (varria, ficava, cheia).

No trecho acima, percebemos que o uso proposital da repetição de estruturas sugere uma ideia de ciclo. Assim, à medida que o tempo se esvai no poema, mais a plenitude da vida é evidenciada.

Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse...

Mas você não morre,

você é duro, José!

(“E agora, José?”, Carlos Drummond de Andrade)

No poema de Carlos Drummond de Andrade, há a construção de uma sequência rítmica por meio da terminação dos verbos no subjuntivo em -sse. Seu uso sequencial transmite uma ideia de compasso.

O exemplo acima, junto do anterior, corresponde ao uso do paralelismo a partir dos seus elementos morfossintáticos para a produção de novos efeitos. Há, ainda, o uso semântico, que proporciona uma assimetria proposital. Vejamos o exemplo do trecho abaixo:

Eduardo e Mônica era nada parecido

Ela era de Leão e ele tinha dezesseis

(“Eduardo e Mônica”, Legião Urbana)

A canção, ao tratar das diferenças de cada uma das partes, evidencia que Mônica era do signo de leão e Eduardo tinha 16 anos. A sentença trata de conceitos distintos; sendo assim, do ponto de vista semântico, deveria ser considerada incorreta.

Porém, como dito anteriormente, o paralelismo é de ordem estilística. Nesse contexto, portanto, a música citou conteúdos diferentes para evidenciar a assimetria entre os personagens.

 

Por Rafael Camargo de Oliveira
Professor de Redação 

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

OLIVEIRA, Rafael Camargo de. "Paralelismo"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/redacao/paralelismo.htm. Acesso em 06 de maio de 2024.

De estudante para estudante


Lista de exercícios


Exercício 1

Considerando que a materialização de um texto se dá mediante o encadeamento lógico de ideias justapostas e ordenadas entre si, comente acerca das relações paralelísticas necessárias ao discurso.

Exercício 2

(FUVEST-SP)

“Amantes dos antigos bolachões penam não só para encontrar os discos, que ficam a cada dia mais raros. A dificuldade aparece também na hora de trocar a agulha, ou de levar o toca-discos para o conserto”.
                                                                         (Jornal da Tarde, 22/10/1998)

a) Tendo em vista que no texto acima falta paralelismo sintático, reescreva-o em um só período, mantendo o mesmo sentido e fazendo as alterações necessárias para que o paralelismo se estabeleça.

b) Justifique as alterações necessárias.