Química do crack

O crack é uma droga ilícita cuja composição química é derivada da reação entre cloridrato de cocaína e bicarbonato de sódio.

Pedras de crack.

A química do crack pode ser compreendida se analisarmos o fato de que o crack é uma droga ilícita derivada da cocaína, obtido na forma de pedras. O crack é o extrato seco da reação química entre o cloridrato de cocaína (C17H21NO4) e bicarbonato de sódio. Como não passa por nenhum processo de refinamento, o crack é carregado de impurezas das substâncias empregadas.

Essa droga foi desenvolvida na década de 80 com o atrativo de ser mais barata do que a cocaína. Por isso, rapidamente se popularizou entre os usuários que costumam consumi-la por via inalatória, utilizando cachimbos. Os efeitos do crack se manifestam poucos segundos após o consumo, no entanto também deixam de ser sentidos em poucos minutos. Esse fator leva os usuários a repetirem o uso seguidamente.

Leia também: Química do ectasy — a composição química de outra droga ilícita

Resumo sobre a química do crack

  • O crack é uma droga ilícita derivada da cocaína.
  • É formado pela reação entre cloridrato de cocaína e bicarbonato de sódio.
  • É obtido na forma de pedras e apresenta alto teor de impurezas, pois não passa por nenhum processo de refino.
  • Foi criado como uma versão mais barata da cocaína.
  • Produz efeitos rápidos e curtos, sendo viciante aos usuários.
  • Os efeitos do crack no organismo envolvem sensação de euforia e prazer, hiperatividade, aumento de confiança, elevação da pressão arterial, aumento do batimento cardíaco e perda de apetite.
  • A longo prazo, os usuários apresentam problemas cardíacos, pulmonares, paranoia, desnutrição e morte.

Qual é a composição química do crack?

O crack é a forma cristalizada da cocaína, sendo a forma neutra do cloridrato de cocaína, um composto orgânico pertencente ao grupo dos alcaloides, que são uma família de compostos que possuem anéis heterocíclicos com nitrogênio. A moléculas do crack e da cocaína ainda possuem grupos ésteres e anel aromático.

Fórmulas estruturais e moleculares do cloridrato de cocaína e do crack, droga cuja composição química deriva da cocaína.

O crack e a cocaína são derivados das folhas de coca, um arbusto encontrado na América do Sul da espécie Erythroxylum coca.

Arbusto da espécie Erythroxylum coca, de onde é extraída a matéria-prima para a cocaína e para o crack.

A cocaína é extraída das folhas de coca quimicamente, mediante o uso de solventes adequados, para a obtenção de uma pasta popularmente conhecida como pasta de coca, que contém cocaína na forma protonada em baixo grau de pureza. Esse material é tratado com ácido clorídrico (HCl), formando o cloridrato de cocaína.

O tratamento do cloridrato de cocaína com bicarbonato de sódio (NaHCO3), sob aquecimento, dá origem à cocaína na forma de base livre e gera como subprodutos o cloreto de sódio (NaCl) e gás carbônico (CO2).

A cocaína na forma de base livre constitui uma camada oleosa na superfície da solução aquosa, que é removida e seca, em contato com o ar, dando origem ao extrato sólido chamado de crack.

O crack é um material sólido, com aspecto esbranquiçado e bordas irregulares, com formato semelhante a pedras. Como o crack é obtido sem nenhuma etapa de purificação, o produto final carrega consigo as impurezas das substâncias utilizadas.

Criado na década de 80, o crack foi usado como uma alternativa de menor custo à cocaína e rapidamente se popularizou.

Utilização do crack

O crack é obtido na forma de pedras, e sua principal forma de utilização é inalatória, com o uso de cachimbos improvisados, que os próprios usuários fabricam com objetos simples, como latas de alumínio. O nome “crack” foi originado do barulho característico registrado quando a pedra de crack é acendida.

Outras formas de consumo da droga são por meio de cigarros, misturado à maconha ou tabaco, ou por injeção intravenosa. Nesses casos, a pedra de crack é quebrada em pedaços muito pequenos.

Indivíduo utilizando um cachimbo improvisado para o consumo do crack.

Como a principal via de consumo do crack é a inalatória, seus efeitos são sentidos muito rapidamente, em cerca de dez a 15 segundos. Imediatamente após o consumo, a fumaça do crack alcança os pulmões. Como esse órgão é muito vascularizado, o princípio ativo da droga alcança a corrente sanguínea rapidamente e é transportado para todo o organismo, inclusive para o tecido cerebral.

No entanto, o efeito gerado no organismo também é rápido, passando em aproximadamente cinco a dez minutos. Em razão da baixa duração dos efeitos, o poder de dependência dessa droga é muito alto, fazendo os usuários repetirem o consumo muitas vezes seguidas. O crack possui maior poder viciante do que a cocaína.

Veja também: Metanfetamina — uma droga ilícita que produz diversos danos fisiológicos em seus usuários

Quais são as consequências do uso do crack?

Após o princípio ativo do crack alcançar o tecido cerebral, os usuários sentem uma sensação de prazer, euforia, empoderamento e um estado de excitação.

As pessoas sob efeito da droga ou com vício estabelecido ficam hiperativas, perdem a sensação de cansaço e não sentem fome. Por isso, os usuários costumam perder muito peso e, com algum tempo de uso, ficam descuidados com questões de aparência e higiene.

O uso intenso e recorrente do crack afeta a saúde da pessoa, que passa a apresentar cansaço extremo e intensa depressão quando está sem o efeito da droga. Por isso, passa a buscá-la continuamente, estabelecendo-se o vício.

Os efeitos do crack sobre o corpo são variados. É comum a visão ficar borrada, ocorrer dores no peito, convulsões, contrações musculares, elevação acentuada da pressão arterial, taquicardia e estado de coma.

Como a droga afeta vários mecanismos do cérebro, é comum a diminuição da atividade dos centros que controlam a respiração, sendo essa uma das causas de morte. A longo prazo, os usuários podem desenvolver problemas mentais e sofrer infartos ou derrames.

O crack também gera efeitos sociais, pois os usuários se tornam extremamente agressivos, irritados e apresentam paranoia, situação em que o cérebro passar a criar cenários que não existem na realidade, envolvendo sensação de medo, desconfiança, delírios, perseguição e violência.

Região da cracolândia, em São Paulo. [1]

Em São Paulo, existe a cracolândia, que é um conjunto de pessoas em situação de rua que se aglomeram em diferentes pontos da cidade, nos quais predomina o tráfico, a prostituição e o uso intenso de drogas, principalmente o crack.

Crédito de imagem

[1] Wikimedia Commons (reprodução)

 

Por Ana Luiza Lorenzen Lima
Professora de Química

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

LIMA, Ana Luiza Lorenzen. "Química do crack"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/quimica/quimica-crack.htm. Acesso em 03 de maio de 2024.

De estudante para estudante