Noite das Garrafadas

Noite das Garrafadas foi uma revolta ocorrida no Rio de Janeiro, em 1831, entre portugueses apoiadores de Dom Pedro I e brasileiros que faziam oposição ao imperador.

Dom Pedro I, primeiro imperador brasileiro, foi alvo de protestos como a Noite das Garradas, em 1831.

A Noite das Garrafadas foi uma revolta que aconteceu no Rio de Janeiro, em 1831, envolvendo portugueses partidários do imperador Dom Pedro I e brasileiros que lhe faziam oposição. Recebeu esse nome devido ao fato de que foram utilizadas garrafas pelos revoltosos. Essa revolta marcou a crise do Primeiro Reinado e o acirramento entre os dois grupos revoltosos.

Os brasileiros eram contrários ao autoritarismo do imperador enquanto os portugueses o defendiam. A consequência da Noite das Garrafadas foi a abdicação de Dom Pedro do trono brasileiro, em 7 de abril de 1831.

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Resumo sobre a Noite das Garrafadas

  • Foi uma revolta ocorrida em 1831, no Rio de Janeiro, entre portugueses que apoiavam o imperador Dom Pedro I e brasileiros que lhe faziam oposição.

  • Sua causa foi a impopularidade e o modo autoritário de governar de Dom Pedro em contraste ao apoio português, que esperava a recolonização do Brasil.

  • Seu nome se refere aos meios utilizados pelos revoltosos, que atiraram garrafas, paus e objetos de vidros em seus oponentes.

  • Sua consequência foi o aumento da insatisfação dos brasileiros com Dom Pedro I e o aprofundamento da crise que o levou a abdicar do trono pouco tempo depois.

Causas da Noite das Garrafadas

Logo após a independência do Brasil, em 1822, Dom Pedro I se tornou imperador do Brasil com apoio dos brasileiros, que aguardavam, além da separação política com Portugal, a formação de uma nova nação independente. Porém, com o passar dos anos, Dom Pedro I se tornou um imperador autoritário, não tolerando divergência e usando de meios violentos para conter as ações oposicionistas ao seu governo.

Um dos principais exemplos dessa forma autoritária de governar do imperador foi o fechamento da Assembleia Constituinte de 1823, convocada para elaborar a primeira Constituição do Brasil. Dom Pedro I ordenou o fechamento da assembleia quando os constituintes decidiram incluir na Carta limites aos poderes imperiais.

No ano seguinte, Dom Pedro outorgou, ou seja, impôs uma Constituição que, entre outras medidas, garantia-lhe maiores poderes com a criação do Poder Moderador, exercido somente pelo imperador. Essa forma autoritária causou reações como a Confederação do Equador, revolta que aconteceu na província de Pernambuco, em 1824, e defendia regime republicano no Brasil.

A Guerra da Cisplatina, em 1825, foi outro fato que arruinou a popularidade de Dom Pedro. O aumento das despesas com gastos militares fez com que o império elevasse a cobrança dos impostos, e a crise econômica em que muitas províncias viviam à época provocou reações contra o imperador. A derrota brasileira na Guerra da Cisplatina e a perda da província da Cisplatina, que se transformou na República Oriental do Uruguai, mostraram a inabilidade de Dom Pedro no comando do Brasil.

Mesmo livre da dependência política de Portugal, o Brasil enfrentava a interferência portuguesa nos campos político e econômico. Os antigos colonos tinham força política e se fortaleceram quando Dom Pedro I se aproximou deles oferecendo cargos no império. Isso desagradou aos brasileiros, pois viram nesse gesto uma possível recolonização e o desprestígio brasileiro perante o governo.

Além dessa disputa pelo poder, brasileiros e portugueses conflitavam no âmbito econômico. Logo após a independência, os brasileiros queriam expulsar os portugueses que comandavam o comércio em território brasileiro.

A imprensa teve um papel importante no Primeiro Reinado, e em várias localidades do Brasil havia jornais e panfletos em circulação. Essas publicações foram utilizadas por críticos para atacar Dom Pedro I e divulgar os ideais que não eram aceitos pelo governo, como a república e as ideias defendidas por revoltosos.

Um desses jornalistas que atuavam na linha de frente contra o imperador foi Líbero Badaró. Em 20 de novembro de 1830, o jornalista Badaró foi assassinado e a causa da morte foi atribuída a Dom Pedro I. Isso gerou comoção no país e aumento da já crescente insatisfação com o imperador.

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Noite das Garrafadas

Em busca da recuperação da popularidade e do apoio brasileiro, Dom Pedro I saiu do Rio de Janeiro e seguiu para a cidade mineira de Ouro Preto. Ao chegar lá, o imperador foi recebido com hostilidade pelos moradores e políticos locais. Nas sacadas dos casarões históricos, foram colocadas faixas pretas representando luto em protesto contra as ações autoritárias do imperador.

Ao visitar a cidade mineira de Ouro Preto, Dom Pedro I foi recebido com hostilidade e faixas pretas nas sacadas dos casarões representando luto.[1]

Para compensar a visita hostil em Minas Gerais, os portugueses simpáticos ao imperador organizaram uma recepção calorosa no Rio de Janeiro para recebê-lo. Isso causou indignação entre os brasileiros contrários ao governo, e o confronto entre os dois grupos ocorreu na noite de 11 de março de 1831. A Noite das Garrafas tem esse nome numa referência aos objetos usados pelos revoltosos.

Entre paus, garrafas e outros objetos de vidro, brasileiros e portugueses se enfrentaram nas ruas do Rio de Janeiro por três dias. Ressalta-se que os brasileiros saíram vitoriosos do confronto contra os portugueses por estarem em maior quantidade, e assim houve a continuidade dos protestos a Dom Pedro.

Consequência da Noite das Garrafadas

Percebendo a gravidade da crise política, Dom Pedro I abdicou do trono brasileiro em 7 de abril de 1831, poucos anos após a declaração da independência, em favor do seu filho Pedro de Alcântara, que, na ocasião, tinha apenas cinco anos de idade.

Devido à pouca idade do príncipe herdeiro, o Brasil entrou no Período Regencial, no qual foi governado por regentes até o golpe da maioridade, que foi a antecipação da coroação de Dom Pedro II como o novo imperador do Brasil, cargo que ele passou a ocupar aos 13 anos e que deu início ao Segundo Reinado.

Exercícios resolvidos sobre a Noite das Garrafadas

Questão 1

(Enem) Após o retorno de uma viagem a Minas Gerais, onde Pedro I fora recebido com grande frieza, seus partidários prepararam uma série de manifestações a favor do imperador no Rio de Janeiro, armando fogueiras e luminárias na cidade. Contudo, na noite de 11 de março, tiveram início os conflitos que ficaram conhecidos como a Noite das Garrafadas, durante os quais os “brasileiros” apagavam as fogueiras “portuguesas” e atacavam as casas iluminadas, sendo respondidos com cacos de garrafas jogadas das janelas.

VAINFAS, R. (Org.). Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008 (adaptado).

Os anos finais do I Reinado (1822-1831) se caracterizaram pelo aumento da tensão política. Nesse sentido, a análise dos episódios descritos em Minas Gerais e no Rio de Janeiro revela

A) estímulos ao racismo.

B) apoio ao xenofobismo.

C) críticas ao federalismo.

D) repúdio ao republicanismo.

E) questionamentos ao autoritarismo.

Resolução:

Alternativa E

A forma autoritária com que Dom Pedro I governou o Brasil durante o Primeiro Reinado foi a principal causa da Noite das Garrafadas, em 1831.

Questão 2

(Mackenzie) “A cena de uma rua é, a um só tempo, a mesma de todo o quarteirão. Os pés de chumbo (portugueses) deixam que a cabralhada (brasileiros) se aproxime o mais possível. E inesperadamente, de todas as portas, chovem garrafas inteiras e aos pedaços sobre os invasores. O sangue espirra, testas, cabeças, canelas... Gritos, gemidos, uivos, guinchos.

É inverossímil.

E a raça toda, de cacete em punho, vai malhando... E os corpos a cair ensanguentados sobre os cacos navalhantes das garrafas.”

(Correia, V.,1933, p.42)

O episódio, descrito acima, relata o enfrentamento entre portugueses e brasileiros, em 13/03/1831, no Rio de Janeiro, conhecido como Noite das Garrafadas. Essa manifestação assemelhava-se às lutas liberais travadas na Europa, após as decisões tomadas pelo Congresso de Viena. A respeito dessa insatisfação popular, presente tanto na Europa, após 1815, quanto nos conflitos nacionais, durante o I Reinado, é correto afirmar que

A) D. Pedro II adota a mesma política praticada por monarcas europeus; quando, ao outorgar uma carta constitucional, contrariou os interesses, tanto da classe oligárquica, fiel ao trono, quanto das classes populares, as quais permaneceram sem direito ao voto.

B) O governo brasileiro também se utilizou de empréstimos com a Inglaterra, aumentando a dívida externa e fortalecendo a economia inglesa, a fim de sanar o déficit orçamentário e suprir os gastos militares em campanhas contra os levantes populares.

C) D. Pedro I, buscando recuperar sua popularidade, iniciou uma série de visitas às províncias revoltosas do país, adotando a mesma estratégia diplomática que alguns regentes europeus, nessa época, praticaram, sem, contudo, lograrem nenhum sucesso político.

D) As guerras travadas contra o exército napoleônico, na Europa, e o envolvimento do Brasil, na Guerra da Cisplatina, provocaram, em ambos os casos, a enorme insatisfação popular e revolta, diante do elevado número de combatentes mortos.

E) A retomada de políticas absolutistas, como o estabelecimento do Poder Moderador, no Brasil, dando plenos poderes a D. Pedro I e, na Europa, a dura repressão contra as ideias liberais, deflagradas pela Revolução Francesa, ocasionaram uma enorme insatisfação popular.

Resolução:

Alternativa E

A Constituição de 1824, imposta por Dom Pedro I, conferiu-lhe o Poder Moderador, que só poderia ser exercido pelo imperador, e mostrou que o Primeiro Reinado adotaria políticas absolutistas e não seria tolerante com ideais liberais.

Crédito de imagem

[1] Luis War / Shutterstock

 

Por Carlos César Higa
Professor de História

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HIGA, Carlos César. "Noite das Garrafadas"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/a-noite-das-garrafadas.htm. Acesso em 03 de maio de 2024.

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