Quilombo dos Palmares: Guerra contra a escravidão

Tela de Antônio Parreiras (1860-1937) retratando Zumbi dos Palmares

As lutas de africanos contra os colonizadores portugueses no Brasil ocorreram em vários momentos da história colonial do país. Porém, nenhum conflito conseguiu se notabilizar mais que a destruição do Quilombo dos Palmares. Formado no início do século XVII, o Quilombo dos Palmares foi destruído sob o comando dos portugueses em 1695, transformando-se em símbolo da resistência africana contra a escravidão no Brasil.

O Quilombo dos Palmares era composto por diversas aglomerações de escravos fugidos, indígenas, desertores de forças militares e de homens livres. Descaram-se a comunidade de Macaco, a capital, Subupira, Dambraganga, Tabocas e Osenga. Entre seus líderes destacaram-se os reis Ganga Zumba e Zumbi.

O Quilombo dos Palmares localizava-se à época na Capitania de Pernambuco, na Serra da Barriga, onde hoje está o estado de Alagoas. Em virtude dessa localização e dos conflitos coloniais do período, os quilombolas de Palmares lutaram por quase um século contra duas das maiores potências marítimas e militares daquela época: Holanda e Portugal.

As atividades econômicas desenvolvidas em Palmares, como a agricultura, os saques e o comércio regional contribuíram enormemente para a garantia da resistência dos quilombolas por tanto tempo. A tática de guerrilhas, baseada em um conhecimento da região superior aos detidos pelos inimigos, foi também outro aspecto importante na resistência.

Mas a tática de guerrilhas não era infalível. Com o passar do tempo e das tentativas de destruição do quilombo, portugueses e holandeses passaram a conhecer também melhor a localidade, diminuindo a vantagem detida pelos palmarinos. A utilização de tribos indígenas contra os habitantes de Palmares auxiliou também em sua destruição. Dois momentos foram importantes para o fim do maior quilombo que existiu em solo brasileiro.

Em 1677, o capitão Fernão Carrilho realizou a primeira ofensiva contra Palmares, depois de haver obtido sucesso com a destruição de dois quilombos em Sergipe. A Ação de Carrilho ocorreu em dois momentos. O primeiro foi o ataque ao mocambo de Alqualtune, que resultou na fuga dos habitantes para outro mocambo, o de Subupira. Após a fuga, os quilombolas colocaram em prática a tática de guerrilha, o que lhes garantiu o recuo das forças de Carrilho.

Após algum tempo e o apoio de mais de 180 homens, entre indígenas e portugueses, Carrilho realizou outra investida, agora contra o mocambo do Amaro. Nesse mocambo havia mais de mil casas, e Carrilho prendeu inúmeros africanos, que foram distribuídos entre seus homens, dentre eles dois filhos do rei Ganga Zumba.

A perda de várias pessoas, o enfraquecimento da resistência e a prisão de seus filhos foram uma forte derrota e possivelmente levou Ganga Zumba a negociar uma trégua. Em 1678, uma expedição de palmarinos deslocou-se para a capital de Pernambuco, onde foram recebidos pelo governador da capitania, Aires de Souza e Castro. A trégua ocorreria com a concessão das terras de Palmares e a liberdade de comércio, em troca do compromisso dos quilombolas de não receberem mais escravos fugidos.

A proposta não agradava os latifundiários da região e muito menos parte dos quilombolas. Frente a isso, uma nova liderança surgiu entre os habitantes de Palmares: Zumbi. Este não aceitava a condição de não receberem novos escravos, o que levou o governador de Pernambuco a indicar Gonçalo Moreira para destruir Palmares. A ofensiva de Moreira resultou no envenenamento de Ganga Zumba. Zumbi tornou-se rei do Quilombo, refugiou-se com os demais na floresta, garantindo a resistência quilombola por mais algum tempo.

Para destruir definitivamente Palmares, os portugueses contrataram o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, que chegou à região em 1692. Foi necessário mais de dois anos, milhares de homens e muitas peças de artilharia para que as tropas do bandeirante vencessem a resistência no Quilombo dos Palmares. A construção de imensas cercas em torno do principal mocambo, o dos Macacos, dificultava a investida das tropas de Velho. Em inícios de 1694, Palmares foi destruído, mas Zumbi ainda conseguiu fugir. Ficou nas matas até ser capturado e morto em 20 de novembro de 1695.

Zumbi foi degolado e sua cabeça exposta em Recife. Tinha fim o maior quilombo construído no Brasil. Outros ainda seriam construídos, mas menores. O que não significou a diminuição da resistência à escravidão. Em razão dessa força simbólica da resistência em Palmares, o dia 20 de novembro é considerado o Dia da Consciência Negra no Brasil.


Por Tales Pinto
Mestre em História

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PINTO, Tales dos Santos. "Quilombo dos Palmares: Guerra contra a escravidão"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/guerras/quilombo-dos-palmares-guerra-contra-escravidao.htm. Acesso em 02 de maio de 2024.

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