Desertificação

As mudanças climáticas têm acelerado o processo de desertificação pelo mundo, causado pelo desmatamento e uso inadequado do solo, além de fatores naturais, como o clima.

Desertificação é o processo de degradação do solo em regiões desmatadas e de clima seco.

Desertificação é o nome que se dá ao fenômeno de degradação química e física dos solos, o que os torna improdutivos e cria verdadeiras áreas desérticas. Ocorre em regiões de clima quente e seco, onde a precipitação anual é muito baixa.

Esse processo é causado pela exploração intensiva e manejo inadequado do solo, a exemplo do desmatamento e de práticas equivocadas de irrigação, aliados a questões de ordem natural e climática, como o aquecimento global e calor intenso. As consequências desse problema ambiental afetam direta e indiretamente o ecossistema e a população que vive nas áreas afetadas.

Confira no nosso podcast: Sustentabilidade, degradação ambiental e a responsabilidade humana

Resumo sobre desertificação

  • Desertificação é o processo de degradação dos solos em regiões de clima quente e seco (árido, semiárido e subúmido).

  • É causada pela combinação de fatores de ordem natural, como mudanças climáticas e fenômenos atmosféricos, e antrópicos, a exemplo do desmatamento e exploração intensiva do solo.

  • Ocorre em diversas regiões do planeta. Destaca-se o processo de desertificação do Sahel, região do continente africano logo ao sul do deserto do Saara.

  • No Brasil, fica na região Nordeste a área atingida por esse problema ambiental. Hoje, 13% do semiárido nordestino passa pela desertificação.

  • Medidas para conter a desertificação envolvem o uso sustentável do solo, irrigação feita de forma correta, redução do desmatamento, reflorestamento e educação ambiental.

  • As consequências da desertificação são, entre outras, solos improdutivos, desestruturação física do solo, salinização, destruição de hábitats, desequilíbrio de ecossistemas, êxodo rural e aprofundamento de problemas socioeconômicos.

O que é desertificação?

Desertificação é o nome que se dá ao fenômeno de degradação de um solo resultante de seu uso intensivo e realizado de maneira inadequada, além de ser consequência de fatores de ordem natural, como as mudanças climáticas, fenômenos atmosféricos e as próprias características do solo em algumas ocasiões.

Diz-se que uma área passou por um processo de desertificação quando todos os nutrientes do seu solo se esgotaram, tornando nula sua capacidade de produção. A estrutura física do substrato também é prejudicada, especialmente naqueles solos em que há maior suscetibilidade à desagregação mecânica. Por esse motivo, a área se transforma em um verdadeiro deserto.

  • Exemplos de desertificação

Existem extensas áreas em todo o planeta que estão passando pelo processo de desertificação, o que inclui porções da região Nordeste brasileira, conforme veremos adiante. No entanto, um dos maiores exemplos atuais de desertificação acontece no continente africano, em uma região que é conhecida como Sahel.

O Sahel é uma faixa de aproximadamente 400 km de extensão norte-sul, que vai do extremo leste ao extremo oeste da África, posicionada imediatamente ao sul do deserto do Saara, um dos maiores desertos do mundo, e compreendendo áreas em 11 países. Estima-se que a população dessa região seja de quase 1,1 milhão de pessoas. É considerada uma das regiões mais pobres do continente, por isso exige bastante atenção.

A desertificação acontece devido ao uso intensivo da terra e das condições climáticas adversas, uma vez que o clima predominante no Sahel é o árido, com baixa precipitação e calor intenso.

No último século, entre 1920 e 2020, a desertificação atingiu ao menos 10% das terras do Sahel, e sua realização continua em andamento. Para frear o crescimento do deserto, a União Africana lançou em 2007 o projeto de construção da Grande Muralha Verde, que foi implementado já em 2008. Até 2030, o objetivo é regenerar 100 milhões de hectares de terra degradada. O projeto consiste no plantio de árvores de forma a construir uma barreira verde e conter a desertificação. A extensão planejada é de 8 mil km de vegetação em um total de 20 países.

Paisagem na região do Sahel, no continente africano.

Causas da desertificação

Por definição, de acordo com a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD, sigla em inglês), tanto fatores naturais quanto de origem antrópica contribuem para a ocorrência do fenômeno.

Uma das causas naturais está associada ao clima típico das áreas de ocorrência. A desertificação é um processo que acontece em regiões de clima árido, semiárido e subúmido, os quais têm como características em comum a baixa umidade, precipitação escassa ou concentrada em um curto intervalo de tempo e elevadas temperaturas. Fenômenos atmosféricos como o El Niño podem igualmente contribuir para a ocorrência da desertificação.

Atualmente, entretanto, um dos principais causadores da aceleração desses processos são as mudanças climáticas, que têm sido responsáveis pelo aquecimento da superfície do planeta e pela recorrência de eventos extremos até então pouco frequentes, como ondas muito fortes de calor, chuvas intensas e outros.

A atividade humana é também causadora da desertificação, o que se dá mediante o uso intensivo e não sustentável dos solos. Entre algumas das práticas associadas a esse problema estão a remoção da cobertura vegetal (desmatamento) para a introdução de pastagens e cultivos agrícolas, em especial as monoculturas, o manejo do solo feito de forma inadequada, a expansão de atividades de mineração, o uso intensivo de agrotóxicos e outros compostos, formas incorretas de irrigação e queimadas.

Leia também: Formas de degradação dos solos — os fenômenos que os tornam improdutivos

Como ocorre a desertificação?

A degradação do solo tem início com a retirada da vegetação que desempenhava importantes funções, como proteger e fornecer matéria orgânica e nutrientes para o substrato. Com o desmate, o solo fica desprotegido e suscetível à ação do calor intenso, visto que a desertificação ocorre em climas quentes, à força da água das chuvas, que, embora sejam menos frequentes, tendem a ser intensas e concentradas, e a outros agentes erosivos que causam a sua degradação química e física.

Nas regiões de planícies, ou terrenos sem aclives acentuados, e climas secos, como a precipitação não é recorrente, o calor intenso retira a umidade do solo por meio do processo de evaporação e, além do ressecamento desses solos, ocorre ainda a salinização, que nada mais é do que a concentração elevada de sais e minerais decorrente da evaporação da água.

Com o tempo, o solo da região vai perdendo a sua fertilidade natural e se torna mais ressecado, consequentemente dificultando a infiltração de água. Caso não sejam executadas ações necessárias, a área se torna improdutiva, completando assim a desertificação.

Desertificação no mundo

Não obstante a desertificação aconteça em climas específicos, as regiões de ocorrência climática árida, semiárida e subúmida correspondem a quase 40% de toda a superfície do planeta. Em termos populacionais, 2 bilhões de pessoas vivem em áreas de clima seco.

De acordo com os dados mais recentes da UNCCD, 24% da superfície se encontra hoje em processo de degradação e 70% está degradada. O Atlas Mundial da Desertificação, desenvolvido pelo Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia em 2018, mostrou que, até então, eram degradados 4,18 milhões de km² de terra todos os anos. O risco de desertificação propriamente dita se impõe sobre 110 países, afetando 200 milhões de pessoas. Com relação à extensão da área ameaçada, o total estimado é de 12 milhões de hectares.

Atualmente, o processo de desertificação ocorre nas seguintes áreas:

  • África Subsaariana, na região do Sahel;

  • Norte da China, nas proximidades do deserto de Gobi;

  • Austrália, nas regiões de clima árido próximas dos grandes desertos;

  • Interior do Nordeste do Brasil e parte do Chile;

  • Sudoeste dos Estados Unidos e norte do México;

  • Regiões próximas ao mar de Aral, no Uzbequistão e Cazaquistão;

  • Ásia Central e Oriente Médio;

  • Sul da península Ibérica e terras próximas ao Mediterrâneo.

Desertificação no Brasil

A desertificação é uma realidade no território brasileiro e atinge quase 13% das terras do semiárido nordestino, ou 126 mil km² de área|1|. O fenômeno afeta drasticamente o bioma da Caatinga e os moradores da região, em especial aqueles que tiram o seu sustento da terra. Portanto, além das consequências diretas ao equilíbrio ambiental, a desertificação no semiárido brasileiro aprofunda ainda mais os problemas socioeconômicos da região.

A implementação de políticas voltadas a prevenir a degradação dos solos no Brasil é importante porque aproximadamente 16% das terras do país são suscetíveis à desertificação, o que compreende 1.488 municípios e quase 32 milhões de pessoas, desde a região Nordeste até o Sudeste, em um total de nove estados.|2|

As medidas e ações de combate à desertificação no Brasil estão compiladas na Política Nacional de Combate à Desertificação, em voga desde 2015 e sob a supervisão do Ministério do Meio Ambiente. O país é também um dos signatários da UNCCD, tendo ingressado no comitê no ano de 1998.

No Brasil, a desertificação atinge áreas recobertas pela Caatinga na região Nordeste, notadamente na área conhecida como Polígono das Secas.

Como evitar a desertificação?

Dada a gravidade do problema, a UNCCD classifica a desertificação como um dos maiores desafios dos nossos tempos. Algumas ações podem ser tomadas a fim de evitá-la, como:

  • Fim ou redução do desmatamento e da prática das queimadas;

  • Medidas de recuperação de áreas degradadas;

  • Reflorestamento e criação de barreiras verdes para impedir o avanço das áreas afetadas;

  • Uso de técnicas adequadas de irrigação e de manejo do solo;

  • Desenvolvimento de agricultura e pecuária sustentáveis;

  • Ampliação do acesso à educação ambiental e a participação da população nas discussões e elaboração de políticas voltadas ao meio ambiente do local onde vivem.

Leia também: Laterização dos solos — fenômeno que gera uma crosta ferruginosa

As consequências da desertificação

A desertificação implica em consequências para os ecossistemas e para a população das áreas afetadas. Listamos as principais abaixo:

  • Inviabilização dos solos, impedindo o desenvolvimento de colheitas ou pastagens;

  • Aumento da suscetibilidade dos solos à erosão;

  • Intensificação do calor e potencialização dos efeitos de eventos extremos, como chuvas fortes;

  • Destruição de hábitats naturais e o consequente desequilíbrio ambiental;

  • Morte de animais e plantas;

  • Falta de alimentos e aumento da fome devido aos solos improdutivos e à seca;

  • Agravamento de problemas socioeconômicos, como a pobreza;

  • Intensificação dos movimentos de migração e êxodo rural.

Exercícios resolvidos sobre desertificação

Questão 1

(Enem) Os dois principais rios que alimentavam o mar de Aral, Amurdarya e Sydarya, mantiveram o nível e o volume do mar por muitos séculos. Entretanto, o projeto de estabelecer e expandir a produção de algodão irrigado aumentou a dependência de várias repúblicas da Ásia Central da irrigação e monocultura. O aumento da demanda resultou no desvio crescente de água para a irrigação, acarretando redução drástica do volume de tributários do mar de Aral. Foi criado na Ásia Central um novo deserto, com mais de 5 milhões de hectares, como resultado da redução em volume.

TUNDISI, J. G. Água no século XXI: enfrentando a escassez. São Carlos: Rima, 2003.

A intensa interferência humana na região descrita provocou o surgimento de uma área desértica em decorrência da

a) erosão.

b) salinização.

c) laterização.

d) compactação.

e) sedimentação.

Resolução:

Alternativa B

O texto indica um processo de desertificação resultante da salinização da área, que se deu mediante a retirada de grandes volumes de água que ia para o mar de Aral para a irrigação. Com isso, acelerou-se o processo de desertificação pela evaporação dos volumes de água restante e pela deposição de sais e minerais, dando origem à salinização daquela superfície.

Questão 2

(Enem)

No mapa estão representados os biomas brasileiros que, em função de suas características físicas e do modo de ocupação do território, apresentam problemas ambientais distintos. Nesse sentido, o problema ambiental destacado no mapa indica:

a) desertificação das áreas afetadas.

b) poluição dos rios temporários.

c) queimadas dos remanescentes vegetais.

d) desmatamento das matas ciliares.

e) contaminação das águas subterrâneas.

Resolução:

Alternativa A

O problema ambiental indicado no mapa por meio de hachuras é a desertificação, que atinge predominantemente (mas não exclusivamente) as áreas de clima semiárido no Nordeste do país, onde se encontra o bioma Caatinga. Destaca-se ainda que o processo é potencializado em regiões desmatadas e onde há a exploração intensiva da terra.

Notas

|1| e |2| DOMINGUES, Filipe. Desertificação atinge 13% do semiárido brasileiro e ameaça conservação da caatinga. G1, 20 ago. 2019. Disponível aqui. Acesso em 13 nov. 2021.

 

Por Paloma Guitarrara
Professora de Geografia

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

GUITARRARA, Paloma. "Desertificação"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/desertificacao.htm. Acesso em 30 de abril de 2024.

De estudante para estudante


Vídeoaulas


Lista de exercícios


Exercício 1

A desertificação é um processo que envolve aspectos físicos e humanos. Um elemento natural que influencia o processo de desertificação é a

a) escassez de precipitações.

b) recorrência de massas de ar.

c) elevada presença de umidade.

d) influência dos rios voadores.

e) presença de chuvas ácidas.

Exercício 2

A desertificação é considerada um fenômeno de origem predominantemente humana, em razão da atuação do homem no meio. Um exemplo de ação humana que contribui para a desertificação é a

a) construção de usinas eólicas.

b) utilização da agroecologia.

c) elevação da poluição do ar.

d) remoção da vegetação nativa.

e) instalação de aterros sanitários.