O “Boa noite, Cinderela” é uma expressão utilizada para referenciar um golpe em que uma vítima ingere, involuntariamente, substâncias psicoativas capazes de causar efeitos adversos para que um crime seja mais facilmente realizado. As substâncias comumente utilizadas são conhecidas como “drogas facilitadoras de crimes”, justamente por conseguirem afetar o cognitivo, o estado de atenção, a capacidade de julgamento e a consciência da vítima, permitindo ao infrator uma maior facilidade na realização do delito.
O “Boa noite, Cinderela” é muito comum em casos de roubo, furto e até mesmo atos de violência sexual. Entre os principais compostos utilizados, estão os benzodiazepínicos (calmantes), a cetamina e o ácido gama-hidroxibutírico, o GHB. As vítimas do “Boa noite, Cinderela” apresentam diversos efeitos que afetam sua consciência, capacidade de discernimento, estado de atenção, reflexos, entre outros. Em doses elevadas, as drogas utilizadas no golpe podem levar a vítima a quadros mais graves, como parada cardiorrespiratória, e, até mesmo, ao óbito.
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Resumo sobre “boa noite, Cinderela”
- O “Boa noite, Cinderela” é um golpe em que a vítima ingere, sem perceber, substâncias psicoativas, as quais, geralmente, estão dissolvidas em bebidas.
- O objetivo do golpe é fazer com que as drogas facilitem delitos, como roubo e agressão sexual.
- Ao entrar em contato com essas substâncias, a vítima pode ter perda de consciência, queda no estado de atenção, perda da memória recente, pior capacidade de julgamento, entre outros.
- Em casos de overdose, mais graves, a vítima pode, inclusive, chegar ao óbito.
- As principais drogas utilizadas no golpe são os benzodiazepínicos, cetamina e o ácido gama-hidroxibutírico, GHB.
- As substâncias do “Boa noite, Cinderela” podem ser identificadas por meio de técnicas laboratoriais, tais como a cromatografia gasosa acoplada ao espectrômetro de massa, GC-MS, e a cromatografia líquida acoplada ao espectrômetro de massa, LC-MS.
O que é o “Boa noite, Cinderela”?
O “Boa noite, Cinderela” (BNC) é um termo para fazer referência a um golpe em que a vítima ingere, involuntariamente, uma substância psicoativa capaz de diminuir a consciência, o estado de atenção, a capacidade de julgamento e a memória. Tais substâncias psicoativas costumam ser dissolvidas, sem que a vítima perceba, obviamente, em bebidas alcoólicas. Esse golpe é comumente realizado em casas de shows e em eventos noturnos.
As substâncias psicoativas utilizadas no “Boa noite, Cinderela” são também conhecidas como drogas facilitadoras de crimes, pois, como o próprio nome deixa em evidência, permitem que o criminoso efetue o delito com mais facilidade, em geral um roubo, furto ou até mesmo um ato de violência sexual ou estupro. Como os casos envolvendo crimes de agressões sexuais são muito frequentes nesse golpe, alguns autores também utilizam a nomenclatura “drogas facilitadoras de agressões sexuais” para as substâncias psicoativas utilizadas.
Composição do “boa noite, Cinderela”
Não existe uma única substância responsável pelo “Boa noite, Cinderela”, muito pelo contrário, há uma grande gama de drogas capazes de produzir os efeitos dopantes esperados pelo golpe. Entre as substâncias mais comuns estão os calmantes (do grupo dos benzodiazepínicos, como o lexotan/bromazepam e o lorazepam), dos quais se destaca o flunitrazepam (comercializado sob o nome de Rohydorm e controlado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa), a cetamina, o etanol (álcool etílico), o gama-hidroxibutirato (GHB) ou ácido gama-hidroxibutírico, a escopolamina, além de hipnóticos não benzodiazepínicos, anti-histamínicos, entre outros.
Muitas dessas drogas são misturadas após maceração e então disponibilizadas para o usuário por meio da dissolução em bebidas alcoólicas ou misturas em cigarros de maconha.
A tabela a seguir apresente as estruturas químicas de algumas drogas citadas.
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Nome |
Fórmula Estrutural |
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Flunitrazepam |
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Bromazepam |
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Lorazepam |
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Ácido gama-hidroxibutírico |
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Cetamina |
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Etanol |
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As drogas utilizadas no “Boa noite, Cinderela” podem ser utilizadas tanto em conjunto quanto isoladamente. Uma das formas de utilização mais frequente é por meio da dissolução em bebidas alcoólicas, uma vez que o etanol potencializa o efeito das drogas.
Quais os efeitos do “Boa noite, Cinderela”?
As substâncias comumente utilizadas no golpe “Boa noite, Cinderela” apresentam efeito depressor no sistema nervoso central (SNC). Os benzodiazepínicos, por exemplo, apresentam alto caráter lipofílico, ou seja, maior caráter apolar e, por conta disso, penetram mais facilmente no SNC, o que pode promover, inclusive, a dependência do usuário.
Já o etanol destaca-se pelo baixo custo e fácil acesso, já que é legalizado, sendo uma droga facilitadora de crime muito comumente utilizada. A mistura de etanol e benzodiazepínicos é comum no golpe do “Boa noite, Cinderela”, já que o efeito é rapidamente iniciado, além da ação ser considerada longa. O ácido gama-hidroxibutírico, GHB, por sua vez, apresenta uma grande solubilidade em água e rápida absorção. É também conhecido como “ecstasy líquido”, dada a semelhança dos efeitos causados, uma vez que provoca a modificação do humor, sentimentos, sensações e a cognição.
A cetamina é um poderoso analgésico, com grande potencial para tratamento da depressão quando administrada em doses menores. Seus efeitos mais comuns são amnésia, perda de movimentos e dissociação do meio visível, mas sem perda total da consciência.
Assim sendo, é possível dizer que, de maneira geral, as drogas utilizadas no BNC causam efeitos como:
- perda da capacidade de raciocínio;
- maior confusão mental;
- diminuição de reflexos e estado de atenção;
- prejuízo à cognição;
- perda da consciência;
- perda da força muscular;
- perda da memória recente.
Em casos mais graves, como de overdose, pode haver complicações do usuário/vítima, desencadeando arreflexia, apneia, hipotensão arterial, depressão cardiorrespiratória, coma e, até mesmo, morte.
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Como é detectado o “boa noite, Cinderela”?
Para realizar a identificação e quantificação das substâncias do “Boa noite, Cinderela”, faz-se necessária a coleta de matrizes biológicas das vítimas, como sangue, cabelo, urina, saliva, vômitos, além de roupas ou resíduos da cena do crime que possam conter amostra bruta.
Entre as técnicas laboratoriais para identificação das drogas, a mais indicada para amostras brutas é a cromatografia gasosa acoplada ao espectrômetro de massa, GC-MS. Já para matrizes biológicas, é mais indicado a utilização de cromatografia líquida acoplada ao espectrômetro de massa, LC-MS. Esse conjunto de técnicas é parte da Química Forense, que une a toxicologia e os conhecimentos de química com o objetivo de produzir provas materiais substanciais que possam auxiliar na resolução de crimes.
Embora esses sejam os métodos mais eficazes e mais tradicionalmente utilizados, já existem projetos científicos que buscam desenvolver técnicas mais simples para identificação de bebidas que sofram adição indevida de drogas. Em 2014, por exemplo, uma empresa desenvolveu um pequeno dispositivo eletrônico que, ao ser mergulhado na bebida, pode indicar a presença de substâncias indevidas ao acender um pequeno LED.
Mais recentemente, alguns estudantes apresentaram ideias de sensores químicos que possam detectar drogas comuns no golpe do “Boa noite, Cinderela”, como difenidramina, ou até mesmo um reagente colorimétrico atóxico que, ao ser adicionado à bebida, apresentaria uma coloração específica e bem visível a olho nu. Também existem trabalhos sobre copos que podem mudar de cor mediante adição de drogas facilitadoras de crimes. É importante destacar que todas essas técnicas atuam como testes rápidos, que servem meramente para detecção de alguma substância indevida.
Perigos do “Boa noite, Cinderela”
Os perigos associados ao “Boa noite, Cinderela” são decorrentes dos efeitos causados pelas drogas colocadas em contato com a vítima. Os sinais mais comuns são aqueles ligados à:
- diminuição da capacidade cognitiva;
- arreflexia (a perda ou diminuição dos reflexos);
- perda da memória recente;
- perda ou diminuição da força muscular;
- queda no estado de atenção;
- dificuldade no discernimento de situações, além da perda da consciência e dificuldade na fala.
Em casos de overdose, a vítima pode sofrer de apneia, hipotensão arterial, depressão cardiorrespiratória, chegar ao estado de coma e, na pior das hipóteses, vir a óbito. Por isso, recomenda-se evitar aceitar bebidas de pessoas desconhecidas em festas, além de frequentar locais seguros e acompanhado de pessoas de confiança.
Fontes
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