Mestre-sala e porta-bandeira

O mestre-sala e a porta-bandeira são o casal que conduz o principal símbolo de uma escola de samba, a bandeira, durante o desfile de Carnaval.

Mestre-sala e porta-bandeira da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro. (Créditos: Ewerton Pereira | Acadêmicos do Salgueiro)

Mestre-sala e porta-bandeira são o casal que carrega e apresenta a bandeira da escola de samba durante o desfile de Carnaval. A porta-bandeira é responsável por empunhar a bandeira, o principal elemento de uma escola de samba; enquanto o mestre-sala possui a função de cortejar a porta-bandeira e defender o pavilhão, como também é chamada a bandeira.

Essas figuras possuem um papel importante para a tradição carnavalesca por conduzirem o símbolo da escola de samba. O casal deve desfilar com elegância e leveza, e sua vestimenta é construída de acordo com o enredo da apresentação. Na avaliação da categoria, são consideradas a dança e a indumentária do mestre-sala e da porta-bandeira.

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Resumo sobre mestre-sala e porta-bandeira

  • O mestre-sala e a porta-bandeira são o casal que conduz a bandeira da escola de samba durante o desfile de Carnaval.

  • Surgiram de uma série de adaptações de rituais e tradições. O baliza e a porta-estandarte, no período dos ranchos, foram figuras precursoras do casal e estavam presentes nas associações carnavalescas do Rio de Janeiro.

  • A principal função do casal é conduzir, exibir e proteger a bandeira da escola de samba no desfile, principal símbolo da agremiação.

  • A vestimenta e a dança do casal são os aspectos analisados na avaliação do desfile.

  • O mestre-sala deve cortejar e reverenciar a dama, enquanto a porta-bandeira deve se movimentar com leveza e portando a bandeira.

Quem é o mestre-sala e a porta-bandeira?

O mestre-sala e a porta-bandeira são o casal que conduz a bandeira da escola de samba durante uma apresentação de Carnaval. A bandeira é o principal elemento de uma escola de samba e carrega um importante simbolismo para todos que fazem parte da história dos desfiles carnavalescos. O objeto também é chamado de estandarte ou pavilhão.

Para Marcelo Pires, diretor cultural da Acadêmicos do Salgueiro, a bandeira representa o “território de ancestralidade de uma escola de samba, a defesa de uma cultura oriunda de um passado africano”. A reverência à bandeira, que consiste em beijá-la, é considerada uma honra máxima que a escola concede a alguém.

História do mestre-sala e da porta-bandeira

Mestre-sala e porta-bandeira da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, em 1961.[1]

O mestre-sala e a porta-bandeira surgiram de duas figuras da história do Carnaval, o baliza e a porta-estandarte. O baliza tinha como função proteger a porta-estandarte para que ninguém pudesse “pegar” a bandeira, que representa um símbolo importante para a comunidade.

O baliza e a porta-estandarte são elementos integrantes dos ranchos, que constituíram as primeiras associações e sociedades carnavalescas do Rio de Janeiro, nas primeiras décadas do século XX. Nesse período ainda não havia as escolas de samba.

Os ranchos surgiram no final do século XIX e se expandiram no início do século seguinte. Esses agrupamentos tiveram importante contribuição para a história do Carnaval, pois reuniam diversos grupos sociais e estavam presentes em diferentes bairros e subúrbios da cidade.

Há também a possibilidade de que a origem do casal e da sua dança tenha se dado em um ritual de conquista de jovens mulheres africanas por homens guerreiros.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro em desfile de 1989.[2]

A apresentação do mestre-sala e da porta-bandeira começou a ser avaliada e atribuir pontos para as escolas de samba no ano de 1938. Até o ano de 1958, apenas as fantasias eram consideradas no processo avaliativo, após a data, passou ser verificado o bailado do casal.

Características do mestre-sala e da porta-bandeira

Mestre-sala e porta-bandeira da escola de samba Paraíso do Tuiuti.[3]

O mestre-sala e a porta-bandeira são parte importante do desfile de uma escola de samba. A porta-bandeira conduz seus movimentos com leveza, majestade, performando uma “rainha”. Enquanto o mestre-sala corteja e reverencia a dama com agilidade, elegância, ritmo e simpatia.

A vestimenta é composta por perucas, tiaras, coroas, luvas, saia longa e de larga volta. As roupas possuem faisões, strasses, plumas, miçangas, acetato, canutilhos, paetês, vime, espuma, luzes de LED, entre outros tipos de materiais. Em harmonia com as vestes suntuosas, o mestre-sala e a porta-bandeira devem se portar de modo majestoso e nobre, representando figuras importantes para a tradição.

Ao longo dos anos, houve várias mudanças no processo de confecção das roupas utilizadas pelo casal. Anteriormente era comum a referência à vestimenta da corte do século XIX, mas, hoje em dia, o enredo da escola passou a influenciar a construção do que se veste. Dessa forma, a fantasia do casal ganhou novas possibilidades de adereços.

Mestre-sala e porta-bandeira da escola de samba Unidos do Viradouro.[4]

Alguns dos passos e coreografias executados pelo mestre-sala e porta-bandeira são os seguintes:

  • maneio;

  • meia-volta;

  • giro completo;

  • torneado;

  • mensura;

  • aviãozinho;

  • cruzado;

  • voleio;

  • corrupio;

  • patinete e abano;

  • balanço;

  • pega de mão;

  • meio-sapateado;

  • apresentação da bandeira.

Os movimentos feitos pela porta-bandeira são mais simples por justamente ela ser a personagem que segura o objeto; enquanto o mestre-sala é constituído de maior variedade de movimentações.

Os elementos da dança do casal possuem influências diversas, entre elas, danças populares flamencas, capoeira e balé clássico.

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Função do mestre-sala e da porta-bandeira

O mestre-sala possui a função de cortejar a porta-bandeira, além de mostrar e proteger, com orgulho, a bandeira de sua escola de samba.

Por sua vez, a porta-bandeira tem a função de carregar e exibir a bandeira da escola, conduzindo-a com gestos leves, graciosos e de reverência.

Com o principal símbolo da escola de samba em mãos, o casal também tem o papel de representar a agremiação no desfile. Como, ainda, o objeto que conduzem não pode ser tocado por qualquer um, eles também atuam na sua proteção.

Mestre-sala e porta-bandeira da escola de samba União da Ilha do Governador.[5]

O movimento realizado pela porta-bandeira deve ser executado com serenidade, sem que seu corpo se enrole na bandeira. Aspectos como leveza, graça, altivez e nobreza contam no processo de avaliação, conforme afirma a gestora de projetos e eventos culturais Tarcila Mariana Gomes Rodrigues, em sua pesquisa sobre o tema.|1|

Importância do mestre-sala e da porta-bandeira

O mestre-sala e a porta-bandeira são figuras importantes para a tradição do desfile carnavalesco por conduzirem e apresentarem o símbolo principal de uma escola de samba, a bandeira. Não é qualquer pessoa que pode tocar a bandeira de uma escola de samba. Nesse sentido, o mestre-sala e a porta-bandeira são figuras essenciais e com grande responsabilidade na tradição dos desfiles.

Escola de formação de mestre-sala e de porta-bandeira

A Escola Manoel Dionísio foi criada, em 1990, no Rio de Janeiro, pelo mestre Manoel Dionísio. O espaço é considerado pioneiro e único no Brasil e atua na capacitação de pessoas para desempenharem a função de mestre-sala, porta-bandeira e porta-estandarte no Carnaval.

Atividade realizada na Escola Manoel Dionísio de formação de mestre-sala e de porta-bandeira. (Créditos: Escola Manoel Dionísio | Facebook | Reprodução)

Mestre Manoel Dionísio afirma que o espaço é de suma importância para a tradição, uma vez que trabalha com todos os públicos — crianças, adolescentes, adultos, idosos, pessoas com deficiência. Além das aulas, a escola promove ações e atividades, como rodas de conversa com personalidades do samba.

Como são avaliados o mestre-sala e a porta-bandeira?

O mestre-sala e a porta-bandeira são avaliados conforme a indumentária e a dança. Os avaliadores aplicam notas de 9 a 10 pontos para o casal de cada escola de samba. Confira os aspectos avaliados, de acordo com Marcelo Pires, diretor cultural da Acadêmicos do Salgueiro:

  • Adequação da indumentária do casal em relação à dança executada.

  • Formas, acabamentos e beleza da vestimenta do casal.

  • Exibição da dança do casal, considerando que o casal não “samba”, mas sim baila no ritmo do samba, com passos e características próprios.

  • Harmonia do casal.

  • Funções de cada figura: a do mestre-sala, de cortejar a porta-bandeira e proteger o pavilhão, e a da porta-bandeira, de apresentação e condução do objeto.

Importante: Quedas ou perdas de partes da indumentária (calçados, esplendores, chapéus, por exemplo), mesmo que de forma acidental, são penalizados.

Curiosidades sobre o mestre-sala e a porta-bandeira

  • Maria Adamastor foi a primeira mulher que se vestiu de homem para ser o baliza, papel desempenhado atualmente pelo mestre-sala.

  • De forma tradicional, as roupas do casal de mestre-sala e porta-bandeira são fabricadas nas cores da escola de samba.

  • Entre os mestres-salas famosos estão: Chiquinho (Imperatriz Leopoldinense), Delegado (Estação Primeira de Mangueira) e Bicho Novo (Estácio de Sá).

  • Entre as porta-bandeiras que se destacaram ao longo da história estão: Dodô e Wilma Nascimento (Portela), Neide (Estação Primeira de Mangueira), Maria Helena (Imperatriz Leopoldinense) e Selminha Sorriso (Beija-Flor de Nilópolis).

Notas

|1|RODRIGUES, Tarcila Mariana Gomes. A dança do mestre-sala e porta-bandeira: tradição e influências. Trabalho de Conclusão de Curso (Gestão de Projetos Culturais e Eventos). Universidade de São Paulo, 2012. 21 f. Disponível em: https://paineira.usp.br/celacc/sites/default/files/media/tcc/437-1232-1-PB.pdf.

Créditos de imagem

[1]Antônio Nery / Wikimedia Commons (reprodução)

[2]Jorge Marinho / Wikimedia Commons (reprodução)

[3]Photocarioca / Shutterstock

[4]Cristina Índio do Brasil / Agência Brasil (reprodução)

[5]Tânia Rego / Agência Brasil (reprodução)

Fontes

GOMES, Leandra Santos. A técnica do balé clássico como contributo para a evolução da dança do mestre-sala e porta-bandeira. Trabalho de Conclusão de Dança (Bacharelado em Dança). Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Manaus. 2023. 49 f. Disponível em: http://repositorioinstitucional.uea.edu.br/handle/riuea/4893.

LOURENÇO, Ricardo. Bandeira, porta-bandeira e mestre sala: elementos de diversas culturas numa tríade soberana nas escolas de samba cariocas. Textos escolhidos de cultura e artes populares, Rio de Janeiro, v. 6. n. 1, p. 7-18, 2009. Disponível em: http://www.tecap.uerj.br/pdf/v6/ricardo_lourenco.pdf.

PREFEITURA do Rio. A realeza na Avenida. 3 de mar. 2014. Disponível em: http://cidadedasartes.rio.rj.gov.br/noticias/interna/295.

RODRIGUES, Tarcila Mariana Gomes. A dança do mestre-sala e porta-bandeira: tradição e influências. Trabalho de Conclusão de Curso (Gestão de Projetos Culturais e Eventos). Universidade de São Paulo, 2012. 21 f. Disponível em: https://paineira.usp.br/celacc/sites/default/files/media/tcc/437-1232-1-PB.pdf.

SINDICATO dos Profissionais de Dança do Estado do Rio de Janeiro. Apostila de conteúdo e referências Para a Prova Teórica da Dança de Casais de Mestre-Sala e Porta-bandeira das Escolas de Samba do Carnaval Carioca. Disponível em: https://spdrj.com.br/wp-content/uploads/2021/07/APOSTILA-DE-DANC%CC%A7AS-DO-CARNAVAL-MESTRE-SALA-E-PORTA-BANDEIRA.pdf.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

AFONSO, Lucas. "Mestre-sala e porta-bandeira"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/carnaval/porta-bandeira.htm. Acesso em 29 de abril de 2024.

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