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Referenciação

A referenciação está relacionada com a maneira pela qual introduzimos novos elementos em um texto e, também, ao modo como os referentes são retomados.

Referenciação e construção textual
Referenciação e construção textual
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A coesão textual é um fator que sempre deve ser levado em consideração quando estamos redigindo. Os elementos coesivos são importantes para garantir uma boa sequenciação dos eventos dentro de um texto e, consequentemente, contribuem também para uma eficiente articulação de ideias. Sendo assim, quando prezamos pela coesão, estamos colaborando com a coerência textual e com os sentidos que serão construídos pelo leitor, afinal de contas, é para ele que escrevemos.

Somos detentores de um enorme material linguístico que sempre é recuperado e ativado quando interagimos verbalmente com alguém. Nenhuma palavra - parte constituinte de nosso discurso - é empregada sem que exista nessa escolha algum tipo de intenção, ainda que não observemos esse fato. Cada vocábulo pode explicitar o que realmente pensamos, denunciando nossas crenças, valores e visão de mundo.

Portanto, alguns cuidados devem ser tomados no momento da escrita. Como parte importante dos elementos que constituem a ideia de coesão textual há um dispositivo chamado referenciação. Para que esta aconteça, algumas estratégias são utilizadas.

Vamos analisar o exemplo abaixo:

As crianças brincavam depois da aula, era sexta-feira e todas estavam reunidas no parquinho. Corriam, desciam escorregadores, subiam no trepa-trepa, giravam no roda-roda e, a despeito da chuva que se anunciava, elas continuavam se divertindo.

Tudo que elas queriam fazer era isto: brincar até que a luz do dia, mesmo que nublado, permitisse. Os pequenos estavam muito ocupados em se divertir e não perceberam o que estava por vir: uma chuva torrencial. Pegos de surpresa, abandonaram o lugar de tanta diversão e foram correndo para suas casas, a fim de se protegerem.

A chuva perdurou por horas, chuva pesada, parecia até que o mundo desabaria naquele dia, descartando assim qualquer possibilidade de retorno ao parquinho. Para tristeza geral da criançada, a chuva insistente levou dois dias para decidir ir embora, o que manteve meninos e meninas presos em suas casas durante todo o final de semana.

Observemos aqui as estratégias de referenciação:

Introdução: nesse momento, podemos observar que um objeto surge no texto, é o caso da palavra parquinho, que até então não havia sido mencionada. Como é um importante termo na construção do texto, é possível observar que ele recebe destaque e, sendo assim, será um elemento que surgirá em outras ocasiões durante o texto.

Retomada (manutenção): o objeto “crianças” é retomado para que não seja esquecido durante a leitura do texto, e essa reativação é construída através de um movimento retrospectivo, ou seja, através de uma anáfora. A anáfora acontece quando fazemos referência a um termo expresso anteriormente no texto.

Desfocalização: lendo o exemplo, notamos que outro objeto é inserido, ganhando assim o foco do texto. Nesse caso, o elemento “chuva” ganha destaque, entretanto, podemos observar também que os outros importantes elementos não desapareceram do texto e serão retomados sempre que necessário.

A referenciação ocorre, basicamente, por meio de dois movimentos, chamados de movimentos retrospectivo e progressivo, respectivamente anáfora e catáfora. Tomando como objeto de análise o mesmo exemplo, vamos observar agora as anáforas e catáforas presentes no texto.

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Anáforas:

As crianças brincavam depois da aula, era sexta-feira e todas estavam reunidas no parquinho. Corriam, desciam escorregadores, subiam no trepa-trepa, giravam no roda-roda e, a despeito da chuva que se anunciava, elas continuavam se divertindo.

As palavras todas e elas retomam algo que já foi citado anteriormente, nesse caso, a palavra crianças. Isso também acontecerá no trecho abaixo:

Tudo que elas queriam fazer era isto: brincar até que a luz do dia, mesmo que nublado, permitisse. Os pequenos estavam muito ocupados em se divertir e não perceberam o que estava por vir: uma chuva torrencial. Pegos de surpresa, (eles) abandonaram o lugar de tanta diversão e (eles) foram correndo para suas casas, a fim de se protegerem.

As palavras elas, pequenos e eles (aqui elipsados, mas partes constituintes da análise) também fazem uma referência anafórica ao objeto crianças.

Catáforas:

Tudo que elas queriam fazer era isto: brincar até que a luz do dia, mesmo que nublado, permitisse.

Os pequenos estavam muito ocupados em se divertir e não perceberam o que estava por vir: uma chuva torrencial.

Observe que os termos isto e o que são elementos que fazem referência a um termo subsequente, respectivamente brincar até que a luz do dia, mesmo que nublado, permitisse e uma chuva torrencial.

Inadvertidamente, fazemos uso desses elementos de referenciação na modalidade oral, pois, quando conversamos com nossos familiares e amigos, não refletimos muito sobre o uso desses fatores tão importantes para a coesão textual. Contudo, na modalidade escrita, devemos ficar atentos para evitar repetições desnecessárias de termos e usar adequadamente o dispositivo de referenciação, compreendendo que o texto pode apresentar relações sequenciadas, mas não necessariamente lineares.


Por Luana Castro
Graduada em Letras

 

Escritor do artigo
Escrito por: Luana Castro Alves Perez Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PEREZ, Luana Castro Alves. "Referenciação"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/redacao/referenciacao.htm. Acesso em 19 de abril de 2024.

De estudante para estudante


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Lista de exercícios


Exercício 1

Sobre os perigos da leitura

Nos tempos em que eu era professor da Unicamp, fui designado presidente da comissão encarregada da seleção dos candidatos ao doutoramento, o que é um sofrimento. Dizer esse entra, esse não entra é uma responsabilidade dolorida da qual não se sai sem sentimentos de culpa. Como, em 20 minutos de conversa, decidir sobre a vida de uma pessoa amedrontada? Mas não havia alternativas. Essa era a regra. Os candidatos amontoavam-se no corredor recordando o que haviam lido da imensa lista de livros cuja leitura era exigida. Aí tive uma ideia que julguei brilhante. Combinei com os meus colegas que faríamos a todos os candidatos uma única pergunta, a mesma pergunta. Assim, quando o candidato entrava trêmulo e se esforçando por parecer confiante, eu lhe fazia a pergunta, a mais deliciosa de todas: “Fale-nos sobre aquilo que você gostaria de falar!”. [...]

A reação dos candidatos, no entanto, não foi a esperada. Aconteceu o oposto: pânico. Foi como se esse campo, aquilo sobre o que eles gostariam de falar, lhes fosse totalmente desconhecido, um vazio imenso. Papaguear os pensamentos dos outros, tudo bem. Para isso, eles haviam sido treinados durante toda a sua carreira escolar, a partir da infância. Mas falar sobre os próprios pensamentos – ah, isso não lhes tinha sido ensinado!

Na verdade, nunca lhes havia passado pela cabeça que alguém pudesse se interessar por aquilo que estavam pensando. Nunca lhes havia passado pela cabeça que os seus pensamentos pudessem ser importantes.

(Rubem Alves, www.cuidardoser.com.br. Adaptado)

(TJ/SP – 2010 – VUNESP)3- A palavra “a”, em –...no entanto, não foi a esperada.(3.º parágrafo), refere-se a

(a) candidatos.

(b) pergunta.

(c) reação.

(d) falar.

(e) gostaria.

Exercício 2

Sobre os perigos da leitura

Nos tempos em que eu era professor da Unicamp, fui designado presidente da comissão encarregada da seleção dos candidatos ao doutoramento, o que é um sofrimento. Dizer esse entra, esse não entra é uma responsabilidade dolorida da qual não se sai sem sentimentos de culpa. Como, em 20 minutos de conversa, decidir sobre a vida de uma pessoa amedrontada? Mas não havia alternativas. Essa era a regra. Os candidatos amontoavam-se no corredor recordando o que haviam lido da imensa lista de livros cuja leitura era exigida. Aí tive uma ideia que julguei brilhante. Combinei com os meus colegas que faríamos a todos os candidatos uma única pergunta, a mesma pergunta. Assim, quando o candidato entrava trêmulo e se esforçando por parecer confiante, eu lhe fazia a pergunta, a mais deliciosa de todas: “Fale-nos sobre aquilo que você gostaria de falar!”. [...]

A reação dos candidatos, no entanto, não foi a esperada. Aconteceu o oposto: pânico. Foi como se esse campo, aquilo sobre o que eles gostariam de falar, lhes fosse totalmente desconhecido, um vazio imenso. Papaguear os pensamentos dos outros, tudo bem. Para isso, eles haviam sido treinados durante toda a sua carreira escolar, a partir da infância. Mas falar sobre os próprios pensamentos – ah, isso não lhes tinha sido ensinado!

Na verdade, nunca lhes havia passado pela cabeça que alguém pudesse se interessar por aquilo que estavam pensando. Nunca lhes havia passado pela cabeça que os seus pensamentos pudessem ser importantes.

(Rubem Alves, www.cuidardoser.com.br. Adaptado)

(TJ/SP – 2010 – VUNESP) 4- A expressão “um vazio imenso”(3.º parágrafo) refere-se a

(a) candidatos.

(b) pânico.

(c) eles.

(d) reação.

(e) esse campo.